São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997 |
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'Delicado Equilíbro' vê Índia com realismo
ALESSANDRO BARROS GRECO
Em entrevista à Folha, ele fala sobre "Um Delicado Equilíbrio", seu segundo romance, que a Editora Objetiva (728 págs., R$ 39,00) lança esta semana no Brasil. A obra, que já foi comparada a "Guerra e Paz", de Tolstói, e "Os Miseráveis", de Victor Hugo, pelo forte componente realista e pela acurada e sensível descrição da Índia e de seu povo na década de 70, narra o dia-a-dia de quatro indianos comuns (Dina, Omprakash, Ishvar e Maneck) cujas vidas se entrelaçam por um momento na casa de Dina. * Folha - Seu livro se passa, em sua maior parte, em uma cidade na Índia em 1975, ano em que Indira Gandhi decretou o "Estado de Emergência", suprimindo os direitos humanos por tempo indeterminado. Durante o livro você omite o nome da cidade. Por quê? Rohinton Mistry - Por muitas razões, entre elas porque o que escrevi é uma mistura de fatos reais que aconteceram em diversas cidades da Índia, logo não teria sentido localizar a cidade, pois ela não existe na realidade. Folha - Hoje muitos ocidentais fazem o caminho inverso ao seu -o autor emigrou para o Canadá em 1975- e vão para a Índia, não em busca de sucesso, mas de espiritualidade. Entretanto o que você descreve em seu livro é uma Índia em que a vida é muito dura para a grande maioria das pessoas e a dificuldade de sobrevivência é muito grande. Como um mesmo país pode ter duas imagens tão díspares? Mistry - As pessoas vão para a Índia com a imagem que é vendida pelos meios de comunicação, que mostram somente aquilo que lhes interessa. No livro, eu quis mostrar o ponto de vista das classes mais baixas da Índia que nunca tiveram voz na literatura mundial. Folha - Como seu livro foi recebido na Índia? Mistry - Meu livro foi publicado em inglês na Índia. E somente 10% da população lê inglês, os outros 90% lê uma das 22 línguas oficiais do país. Como somente as classes mais altas aprendem inglês, infelizmente as pessoas de quem falo no livro nunca irão lê-lo. Folha - Suas personagens estão sempre buscando ser felizes, mas no fim sempre acabam falhando, levadas pelas circunstâncias da vida. Você acredita que a Índia é inviável para as pessoas das classes mais baixas? Mistry - Isso mesmo, mas o que é surpreendente é que elas não desistem de lutar por uma vida melhor e se sentem felizes somente pela oportunidade. Como no caso de Omprakash e Ishvar que só de poderem ir para a cidade grande e terem a possibilidade de conseguir um emprego, já se sentem felizes. Enquanto que, para nós, ser feliz é ter uma mansão e seis carros na garagem. Folha - Em seu livro você descreve a sociedade dividida em castas que até hoje existem na Índia. Como está essa situação? Mistry - A televisão ajudou muito, pois mostra para as pessoas que moram longe das grandes cidades que o que acontece nas suas cidades não é certo. Então elas começam a perceber o absurdo da situação e a lutar por seus direitos. Livro: Um Delicado Equilíbrio Autor: Rohinton Mistry Lançamento: Objetiva Quanto: R$ 39 (728 págs.) Texto Anterior: Boca Livre reúne grandes nomes da MPB em novo disco Próximo Texto: Vargas Llosa já tem pronta 1ª versão de um novo romance Índice |
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