São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997
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A hora do pacote

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Ficou longe do público um dilema enfrentado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Tratou-se da escolha da hora exata para baixar o pacote fiscal que pode reduzir o déficit do governo -seja com corte de gastos ou aumento nas exportações e na arrecadação.
Ontem, na Colômbia, FHC anunciou que o pacote virá na segunda-feira. Foi uma vitória da área econômica sobre a política.
Os economistas vinham dando um recado claro e direto: o momento é grave e as medidas têm de ser adotadas imediatamente.
Já os políticos davam um conselho mais voltado para a conjuntura que o governo tem dentro do Congresso. Argumentavam que seria conveniente esperar até depois da aprovação da reforma administrativa para lançar as medidas fiscais. Havia e há razões concretas para essa advertência.
Assim como as Bolsas de Valores, o Congresso também tem suas idiossincrasias e sensibilidades.
Medidas fiscais podem mexer nos bolsos e nos negócios de muitos parlamentares. Ou com quem financiar essa gente na campanha do ano que vem.
Se hoje já é incerta a aprovação da reforma administrativa, o azedume será maior com deputados e senadores irritados por causa do pacotão fiscal.
Como a reforma é tão importante quanto as medidas econômicas, os parlamentares governistas sustentavam que seria bom ter as duas. E que, para isso, é necessário respeitar a ordem natural das coisas.
O problema é que FHC estava premido pelas circunstâncias. Com as Bolsas em queda livre ontem, não teve como esperar. Abriu a porteira para que seus economistas soltassem as maldades que ainda restam ao Executivo em meio à crise.
Se der certo, muito bem. Caso contrário, o governo poderá ter queimado suas últimas balas. E ainda corre o riso de ficar sem a artilharia prometida pelo Congresso, na votação da reforma administrativa, semana que vem. Se é que essa data será mantida.
O momento é gravíssimo.

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