São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997
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O guarda-chuva outra vez

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - De todas as imagens que FHC usou em seu pronunciamento desta semana, a mais reveladora (e inquietante) foi a do guarda-chuva. Disse ele que o terremoto provocado pela crise nas Bolsas e pela truculenta elevação da taxa de juros tinha sido um "chuvisco" e que, textualmente, "ainda bem que temos um guarda-chuva".
A imagem é conhecida. Um banco houve que escolheu o guarda-chuva como símbolo. Tal como o atual governo, passava a imagem de uma instituição saudável, próspera, financiando eventos, transmitindo otimismo e euforia. Seus dirigentes eram simpáticos, gente fina. Não parecia um banco, mas um amigo que estava ao nosso lado, com o guarda-chuva pronto para nos proteger de chuviscos.
Deu no que deu. Talvez não haja identidade do banco do guarda-chuva com o governo-idem de FHC. Mas que há analogia, há. Tão óbvia quanto as declarações tranquilizadoras da arenga presidencial.
No caso do banco, a contabilidade feita pelos guarda-livros de sempre revelava não apenas a normalidade, mas a prosperidade. Enquanto a turma de baixo mexia nos números, fraudando entradas e saídas, inventando operações e apresentando balanços positivos (e prósperos), a cúpula cultivava a boa imagem, a cordura e a simpatia dos bem-sucedidos.
Uma situação bastante parecida com a do atual governo. Tal como os dirigentes do Nacional, que agora juram total desconhecimento das fraudes na escrituração interna, FHC dá nítida impressão de ignorar os rudimentos do que se passa na economia nacional -bem mais macetada do que a do Nacional.
Sua única preocupação parece ser a aprovação popular ao Plano Real -seu cabo eleitoral em atividade há mais de três anos. Os acionistas e clientes do Nacional também estavam satisfeitos, era o banco que desfrutava, talvez, da melhor imagem junto ao público, graças ao eficiente marketing de que dispunha. (Amanhã tem mais).

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