São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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EUA aderem ao cru na 'alimentação viva'

CATHY HAINER
DO "USA TODAY", EM SAN FRANCISCO

Quando o assunto é alimentação, os modismos vão e vêm. Mas a última tendência nessa área é, na verdade, a mais antiga de todas: comer os alimentos crus.
Os adeptos da alimentação crua, também conhecida como "alimentação viva", levam suas dietas muito além do vegetarianismo. E estão inventando maneiras novas de levar o conceito dos alimentos não cozidos à atenção das pessoas que pensam na saúde ao comer.
"De todos os seres vivos do planeta -animais, plantas, insetos-, os únicos a terem excesso de peso e ficarem fora de forma são aqueles que consomem alimentos cozidos", diz Juliano (que não usa sobrenome), proprietário do restaurante Raw Living Foods, fundado há dois anos no bairro de Sunset, em San Francisco.
Esbelto, em ótima forma e praticamente explodindo de energia, Juliano, 27, praticante do crudismo há cinco anos, é o garoto-propaganda ideal da "causa".
E o crudismo vem ganhando cada vez mais adeptos. Várias celebridades, incluindo Woody Harrelson, Demi Moore e Robin Williams, já passaram pelo restaurante Raw.
Na Internet, há vários sites dedicados ao crudismo, entre eles o All Raw Times (www.rawtimes.com), que oferece receitas e informações sobre a dieta. Há também uma revista, a "Living Nutrition", dedicada ao assunto.
E Juliano está escrevendo um dos primeiros livros com receitas à base de alimentos crus -"Raw, the Uncooked Book" (um trocadilho que significa "Cru, o Livro Não Cozido" ou "não falsificado").
"Para os adeptos do crudismo, o cozimento destrói muitas vitaminas, minerais e enzimas essenciais dos alimentos", diz Barbara Haspel, uma das autoras do boletim nova-iorquino de alimentação saudável "Dreaded Broccoli".
Os seguidores fiéis do crudismo acham que os alimentos cozidos entopem os intestinos e o cólon, provocando males que vão desde o câncer até o diabetes. Mas a alimentação crua não se resume apenas a cenouras cruas fatiadas.
Delícias do cru
No restaurante Raw Living Foods, Juliano serve pizzas cruas -servidas sobre trigo sarraceno germinado e "assadas" sem fogo (elas ficam ao sol por horas).
O sushi servido no restaurante não é feito de peixe, mas de polpa de cenoura temperada, com sabor surpreendentemente semelhante ao de salmão.
O arroz não é cozido, mas deixado de molho em água por 30 dias, até ficar macio e mastigável. E as "fritas" que acompanham o tira-gosto de guacamole não são fritas, e sim fatias suculentas de batata doce, coco e cenoura.
No mês que vem, Juliano vai transferir seu restaurante para um local maior, atendendo à demanda dos clientes. E dois outros restaurantes de alimentação viva foram abertos recentemente: o Lovin' Life, em Fairfax, Califórnia, e o Raw Experience, em Paia, Havaí.
Mas os especialistas em segurança de alimentos mencionam alguns problemas da dieta crua. "Compreendo o princípio, mas a dieta é repleta de perigos", diz Nicols Fox, autora de "Spoiled: The Dangerous Truth About a Food Chain Gone Haywire" (Estragada: A Verdade Perigosa Sobre Uma Cadeia Alimentar que Endoidou), HarperCollins, US$ 25.
"Hoje em dia, os legumes contêm uma multidão de agentes patogênicos antes desconhecidos, incluindo a salmonela e ciclospora." Para ela, o aquecimento é uma maneira importante de eliminar esses perigos.

Tradução de Clara Allain

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