São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997 |
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País tem de conter madeireira, diz ecologista
MARCOS PIVETTA
Segundo Martin, doutor em ecologia pela Universidade de Zurique, essas empresas "limpam a floresta e desaparecem". Ele visitou o país pela primeira vez na semana passada e teve uma audiência com o presidente Fernando Henrique na última quarta-feira. Entre outros assuntos, eles discutiram a questão das madeireiras asiáticas e os resultados de um estudo global, recém-divulgado pelo WWF, que aponta o Brasil como o país que mais desmata florestas no mundo. Leia abaixo trechos de entrevista concedida por Martin à Folha. * Folha - O senhor acha que o governo brasileiro está fazendo algo para barrar a entrada ou pelo menos regular a atuação das madeireiras asiáticas na Amazônia? Claude Martin - Eu falei desse problema com o presidente e ele se mostrou um pouco surpreso com a atuação de madeireiras estrangeiras no Brasil. Ele disse que o Brasil tem tempo para colocar esse problema sob controle. Mas talvez não haja tanto tempo assim. Eu conheço essa questão (das madeireiras) no mundo. A atuação delas se tornou um problema real apenas nos últimos anos. Elas exploraram madeira na Malásia e Indonésia e agora estão se expandindo pela África e América do Sul. Mas talvez não haja tanto tempo assim. Essas pessoas (madeireiros) são espertas. Folha - O que o senhor quer dizer com isso? Martin - Eles compram uma madeireira brasileira e a colocam em outro nome, às vezes no de outro estrangeiro e ou mesmo de brasileiros. O que vimos na África -e eu não estou dizendo que o Brasil é a África- não parece muito animador. Folha - Qual o poder de destruição da floresta dessas madeireiras? Martin - Algumas dessas empresas fazem um trabalho muito rápido. Elas limpam a floresta e desaparecem. Elas têm muita mobilidade. Mudam de país para país e é dificil fazer acordos com elas. Nao são só as asiáticas. Há outras madeireiras transnacionais com origem em outros locais, como a Europa, que não seguem métodos de exploração sustentável da floresta. Eu não sei se o governo o governo braileiro tem meios legais de simplesmente impe dir a entradas dessas madeireiras, da dessa empresas. Os responsáveis pelo controle de operações na floresta devem ficar com os olhos abertos para isso. É um processo imenso, que não obedece às regras de nenhum país. As madeireires transnacionais são uma ameaça real. Se alguém no governo (brasileiro) disser que a situação está sob controle, gostaria de saber como é feito esse controle. Folha - O WWF divulgou um estudo mostrando que, nos úlitmos 6.000 anos, dois terços das florestas do mundo foram desmatadas e que, neste momento, o Brasil é o pais que desmata no mundo. O dado foi contestado pelo governo brasileiro. O que o senhor tem a dizer sobre isso? Martin - O relatório dizia que a velocidade de desmatamento no Brasil é atualmente a mais rápida do mundo em termos absolutos. Ou seja, o Brasil é o país que hoje destrói a maior área de floresta tropical, cerca de 30 mil km2 por ano, metade desse total na Amazônia e outra metade nos cerrados e mata atlântica. Como o Brasil tem mais florestas do que os outros países, sabemos que ele não é o que mais desmata em termos relativos percentuais. São 30 mil quilômetros quadrados por ano, metade do quais na Amazônia e a outra metade no cerrado e Mata Atlântica. É uma área muito grande. Em todas as florestas tropicais do mundo, a taxa anual de desmatamento é 170 mil quilômetros quadrados. O Brasil responde por algo entre um quinto ou um sexto do que é desmatado no mundo tropical. Folha Por que a comparação somente com o desmatamento no mundo tropical? Martin Porque nos países de clima temperados a área de floresta está aumentando. Não em todos os países. Na Rússia, por exemplo, perdemos floresta. Mas nos Estados Unidos, Canadá e Europa, há um crescimento lento. Mesmo que as pessoas não gostem disso, nós estamos preocupados com essa taxa de desmatamento no Brasil. Texto Anterior: Vigário põe caixa de coleta de seringa na igreja Próximo Texto: Perfil do WWF Índice |
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