São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Ativista defende corte de madeira

ALTINO MACHADO

ALTINO MACHADO; LUCAS FIGUEIREDO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

LUCAS FIGUEIREDO
Reunidos em Manaus há 15 dias, os participantes brasileiros e estrangeiros do PPG7 (Programa para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, bancado pelos países "ricos") foram pressionados por um ativista ambiental radical.
Fábio Vaz de Lima, secretário-executivo do GTA (Grupo de Trabalho Amazônico), que representa outras 355 ONGs no PPG7, prega a quebra de tabus e defende nova formas de se proteger a floresta.
Um exemplo. Para Lima, a exploração de madeira na Amazônia pode não ser um pecado. Ao contrário. Controlada, é uma forma de proteger a Amazônia.
"A madeira tem grande valor e pode ser comercializada com responsabilidade técnica", afirma ele.
Outro exemplo. Os estudos do governo e das ONGs sobre as queimadas na região são apenas estimativas. Ninguém sabe, de fato, o que está queimando e quem são os responsáveis. A seguir, os principais trechos da entrevista à Folha.
*
Folha - A reunião do PPG7 foi satisfatória?
Fábio Vaz de Lima - Não foi satisfatória o suficiente. Esperávamos uma oportunidade melhor para poder avaliar o programa e também uma certa disposição dos países-doadores em cooperar com mais recursos para a região (as doações anunciadas em Manaus somaram US$ 43 milhões, contra US$ 90 milhões reivindicados pelo governo e pelo Banco Mundial).
Folha - Qual o resultado final?
Lima - O governo brasileiro e os doadores buscaram mostrar que o pouco que foi aplicado está dando bons resultados. O importante a ser destacado é que os resultados positivos do PPG7 decorrem de projetos que contam com participação social, que são os projetos das reservas extrativistas, demarcação de terras indígenas etc.
O programa andou por causa da participação social. No entanto, foi tímida a posição do governo em relação às pressões por mais recursos dos países-doadores.
"A política ambiental do governo é marginal dentro do próprio governo"
Folha - Em um desses projetos, os seringueiros sinalizam com a disposição de competir no cobiçado mercado internacional de madeira tropical. Isso não representa um enorme risco?
Lima - É um risco, mas é bem menos arriscado que convertê-los em agricultores ou mão-de-obra de subempregos nas cidades. Isso é fruto da crise da borracha, que já dura pelo menos 50 anos. A Zona Franca de Manaus, que marca outra etapa do desenvolvimento regional, está em estado lastimável.
Para que a gente possa fazer com que a Amazônia tenha desenvolvimento, a tendência é tornar a floresta lucrativa. O projeto dos seringueiros vai mostrar que a madeira tem grande valor e pode ser comercializada com responsabilidade técnica. Isso é menos arriscado que outras tentativas do governo, como o plantio de soja e eucalipto na região.
Folha - O presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Eduardo Martins, responsabilizou os pequenos produtores da Amazônia por 40% dos desmatamentos na região. Por que as ONGs foram tão vigorosas em contestar essa posição?
Lima - Todas as pesquisas nesse campo são apenas indicadores e necessitam de longos anos de estudos. Os dados do governo e das ONGs são muito precários, são apenas estimativas. Eduardo prestou um desserviço. Culpar os pequenos ajuda a criar uma consciência contrária à luta ambiental na região. O que transparece é que os ambientalistas são contra os agricultores se desenvolverem.
Folha - O governo conseguiu sensibilizar os países-doadores sobre os resultados da política ambiental brasileira?
Lima - A política ambiental do governo é marginal dentro do próprio governo. O que toca o governo é a área econômica em busca de investimentos que não abordam o desenvolvimento sustentável. Mas é importante reconhecer o esforço dentro da área ambiental do governo. Os documentos com as diretrizes elaborados pelo setor trazem elementos inovadores, capazes de dar novo rumo à Amazônia.
Folha - As ONGs ligadas à defesa da mata atlântica reclamaram que a Amazônia é privilegiada dentro do governo.
Lima - O privilégio é que a Amazônia conta com uma secretaria que coordena interesses da região. Quanto aos recursos, a Amazônia não é privilegiada. Dos R$ 80 milhões do Fundo Nacional de Meio Ambiente, por exemplo, a maior parte será distribuída para a região Sul.

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