São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Eles evitam o ataque de nervos

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles quase arrancaram os cabelos no início da crise nas Bolsas de Valores, há 15 dias. Perderam o sono, a fome e ficaram próximos de um ataque de nervos.
Passado o pânico inicial, executivos da área financeira estão encontrando maneiras para extravasar a tensão e sobreviver num mercado que dá mostras de que continuará espinhoso nos próximos meses.
Afinal, não dá para descuidar do coração quando a Bolsa paulista continua pregando sustos e fecha a sexta-feira com queda de 6,38%.
Roberto Cesar Lobos, 38, gerente financeiro da LG Electronics, por exemplo, abandonou -propositalmente- as aulas de natação.
"Não consigo mais nadar. É um esporte solitário, que me leva a pensar nos problemas do trabalho", afirma o executivo.
A solução tem sido buscar atividades mais sociáveis. "Procuro descontração e estar com pessoas divertidas."
Ricardo Delneri, 27, sócio da Tudor Asset Management, empresa que faz a gestão de recursos de terceiros, descarrega a tensão nas aulas matinais de jiu-jítsu.
Na primeira semana crítica da Bolsa, ele chegou a sair do escritório às 4h para voltar às 8h do mesmo dia e deixou o esporte de lado. "Os dias foram um horror e, sem o esporte, fiquei até mais tenso", diz o executivo que trabalha normalmente de 10 a 14 horas por dia.
O presidente do Chase Manhattan no Brasil, Patrick Morin, optou por mais horas de sono. "Dormi muito mais no final de semana", diz, sem revelar a quantidade a mais de sonhos (ou pesadelos?).
Para descarregar energias, Morin costuma fazer bicicleta ergométrica na frente da TV -ligada no noticiário, obviamente. "É como evito um ataque cardíaco."
A saída encontrada por Carlos Bifuco, diretor financeiro da Klabin, passa pela sabedoria feminina. Ele tem o hábito de caminhar seis quilômetros por dia, sempre acompanhado da mulher.
Durante o trajeto no Alto de Pinheiros (zona oeste), os conselhos da mulher durante o crash foram certeiros. "Seus comentários vão ao ponto principal e trazem clareza de raciocínio."
No caso, os conselhos da mulher foram na linha de que nada mudou. "Fiquei mais tranquilo."
Sem pânico
Nem todos os executivos, no entanto, se deixaram alterar pelo pânico que atingiu a economia mundial nos últimos 15 dias.
"É um fato consumado e não está ao meu alcance mudar. Posso ficar triste, preocupado, mas jamais nervoso", diz Luiz de Campos Salles, presidente da Itaú Seguros.
A calma de Campos Salles vem de um hábito cultivado há quase uma década: ele caminha durante 1h10, cinco vezes por semana.
Durante a semana, a caminhada é marcada por idéias de trabalho. No sábado e domingo, sua cabeça "voa" e ele, simplesmente, relaxa.

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