São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Torneios regionais acabariam com a zorra

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Tenho minhas dúvidas de que se confirme essa história de o Flamengo vir disputar o Campeonato Paulista sob o abrigo do Araçatuba.
Isso me cheira mais a pressão sobre o Caixa D'Água, que é assim, ó, com o Eurico Miranda e que transformou o Campeonato Estadual do Rio numa zorra inacreditável.
A começar por esse negócio de campeonato estadual, que é um anacronismo do tempo do Onça. Com exceção de São Paulo, nenhum outro futebol resiste a esses torneios longos e deficitários. E mesmo o daqui teria de adaptar-se aos novos tempos, mais compacto e estimulante. Aos demais, não resta outra alternativa senão a de fundir-se em regionais, que poderiam servir de funil para um Brasileiro sofisticado.
Então, teríamos, por exemplo, Inter, Grêmio, Juventude, vá lá, juntando-se aos três do Paraná, mais um ou dois de Santa Catarina. Os grandes cariocas, mais Cruzeiro, Atlético, quem sabe um do Espírito Santo e os baianos Vitória e Bahia formariam outra região.
Disputas rápidas, decisivas, que abram espaços no calendário para torneios internacionais, tipo Supercopa e Mercosul, que aí vêm. Pois ninguém mais tem saco para essas competições longas, classificatórias, insossas, arrastadas, que marcam o nosso futebol com o estigma do amadorismo e da politicalha mais rasteira.
Vejam o exemplo da noite de quinta passada: 20 mil tricolores no distante e frio Morumbi, com transmissão direta da TV e tudo o mais. Isso num momento em que o São Paulo atravessa uma de suas piores fases, desclassificado do Brasileiro etc. Mas, como tem chances na Supercopa, e o jogo contra o Colo Colo valia a expectativa de uma conquista, pronto!, lá estava a torcida.
Ah, mas a Supercopa não vale nada, não leva a lugar nenhum, dizem os azedos de plantão. Não precisa, pois a disputa está em si mesma. A própria Supercopa é a atração, por ser rápida e decisiva o tempo todo.
Vivemos um tempo veloz, compacto e excitante. Não há mais lugar para a lerda carruagem que carrega o nosso futebol na boléia.
*
Interessantíssima essa experiência que Zagallo quer fazer contra País de Gales, escalando Rivaldo no ataque. Ainda mais se colocar desde o início Muller ao seu lado.
São dois atacantes múltiplos e difusos, que tanto vêm ajudar aqui atrás, na armação de jogadas, como se metem de surpresa na área adversária. Muller, tocando de primeira; Rivaldo, investindo com a bola dominada. Eis uma dupla, em que, no papel, um completa o outro. Pena que, como de hábito, eles só serão apresentados um ao outro depois que a bola já estiver rolando pra valer.
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Tenho por Amedeo Carrizzo aquela admiração que só se devota aos gênios. Mas não concordo com uma vírgula do que disse sobre Pelé e Maradona. Pelé, sim, foi um craque muito mais completo do que Maradona. Aliás, mais completo do que Di Stéfano, Moreno, Pedernera, Maradona e Loustau juntos.

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