São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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No coração da matéria

MAURÍCIO TUFFANI
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS

A partir de amanhã, cerca de 200 pesquisadores de diversas áreas, os primeiros resultados científicos de um dos mais importantes investimentos da ciência brasileira: a implantação do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS).
Reunidos em um workshop no laboratório, os pesquisadores trocarão conhecimentos sobre 133 projetos de pesquisa, dos quais 117 do Brasil e 16 de outros países, segundo o físico Cylon Gonçalves da Silva, ex-diretor do LNLS e um dos responsáveis pela sua criação.
A luz síncrotron é uma das mais avançadas ferramentas científicas para a análise da composição e da estrutura de materiais. Por apresentar altas concentrações das radiações ultravioleta e infravermelha, de raios X e também de luz visível, ela permite obter em testes resultados muito mais rápidos e mais precisos que com o uso de radiações convencionais.
O uso dessa luz na análise da composição e da estrutura de materiais se baseia no conhecimento da reação destes à incidência de diversas formas de radiações.
O LNLS é o único laboratório do gênero em toda a América Latina e também em todo o hemisfério sul. Em todo o mundo, além do Brasil, esse tipo de laboratório existe apenas em 13 países: Alemanha, China, Coréia do Sul, Dinamarca, Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Itália, Japão, Reino Unido, Rússia e Suécia.
As propriedades da luz síncrotron relativas ao estudo da composição dos materiais foram anunciadas pela primeira vez em junho de 1956 por D. H. Tomboulian e P. L. Hartman, do Departamento de Física da Universidade Cornell, em Ithaca, no Estado de Nova York.
O estudo dos dois pesquisadores, publicado na revista "The Physical Review", abriu o caminho para a utilização desse tipo de luz em diversas áreas da física, da química e também da biologia.
O LNLS foi implantado desde janeiro de 1987 ao custo de US$ 70 milhões, que corresponde a cerca de um terço do que foi gasto na implantação de outros laboratórios do mesmo tipo em Taiwan e na Coréia do Sul, segundo seu diretor, o engenheiro Antonio Ricardo Drõher Rodrigues.
Glaucius Oliva, do Instituto de Química de São Carlos (IQSC), da Universidade de São Paulo, teve no LNLS a segurança para poder analisar, sem prejuízos, experimentos com cristais de proteínas submetidos à atração gravitacional praticamente nula.
Os experimentos de Oliva e seus colegas do Laboratório de Cristalografia de Proteínas do IQSC foram levados ao espaço neste ano pelos ônibus espaciais norte-americanos Columbia e Atlantis.
"Com a luz síncrotron, podemos em dois ou três minutos analisar a imagem de um cristal. Sem ela, esse trabalho nos tomaria cerca de uma hora. Como a análise de cada cristal exige de 60 a 100 imagens, vários deles se deteriorariam em poucas horas com radiações de outras fontes", diz Oliva.

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