São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Novelas brasileiras são sensação

IG
DO ENVIADO ESPECIAL

A derrocada do comunismo e o intercâmbio cultural das novas gerações com o mundo mudaram o modo de vida dos saaraouis. Até novelas brasileiras entram no caldo cultural dos exilados.
Descendentes de iemenitas que colonizaram a região no século 9, submetendo algumas tribos berberes locais ao islamismo, os saaraouis hoje são provavelmente um dos grupos árabes mais abertos e liberais no papel.
Isso se expressa no esboço da Constituição do Saara Ocidental, que prevê liberdade feminina, multipartidarismo e livre mercado. Essa é a teoria, confirmada especialmente pelos mais novos.
Baichmulin, 25 anos e 13 de estudos em tradução em Cuba, é um bom exemplo. Morador de Rabuni, adora assistir a novelas brasileiras na TV por satélite local -agora, é a vez de "Felicidade" dublada em árabe por uma emissora dos Emirados Árabes Unidos.
Como com quase todos os saaraouis, futebol é tema predominante. "Ronaldo é o melhor", sentencia o rapaz, que acha Mário Zagallo "desatualizado".
As mulheres não são obrigadas a usar véus, mas costumam vestir-se com coloridos vestidos e panos que cobrem a cabeça.
Embora haja um resquício da chamada globalização com a TV por satélite e um computador ligado à Internet em Rabuni, a natureza relembra todos da real condição dos saaraouis.
O calor interrompe toda conexão com o mundo em boa parte do dia e as tempestades de areia, a comunicação aérea e terrestre.
O fim da utopia do socialismo real também afetou os saaraouis. Surgida em 1973, a Frente Polisario de cara encantou a "intelligentsia" esquerdista mundo afora com suas posições libertárias.
Até hoje, o brasão do país é formado por dois rifles cruzados com a bandeira local -um misto do panteão palestino com o da Argélia. No centro, um martelo.
Apesar das juras de amor à democracia e ao multipartidarismo, a Frente Polisario é a única agremiação saaraoui legal. Se a independência for alcançada, a divisão tribal deverá orientar a formação de partidos -são sete tribos originais, com o clã Ergibad liderando.
Bilcassim Sualiki pertence a essa família. Ele é o xeque de sua vizinhança no campo de Smara, controlando tudo num raio de dez tendas, e tem luxos raros em sua casa, como uma TV preto-e-branco.

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