São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Muro de 1.800 km divide o território

IGOR GIELOW
DO ENVIADO ESPECIAL

Um muro de 1.800 km de extensão é a síntese mais perfeita do surrealismo militar que envolve a situação do Saara Ocidental.
Ele começou a ser construído em 1982 e ficou pronto pouco depois que outro muro mais famoso, o de Berlim, foi derrubado. Em 1991, o Marrocos acabou de pôr minas antipessoais em toda sua extensão e decidiu então assinar o cessar-fogo vigente desde então.
O objetivo do muro é o de separar a parte ocupada do Saara Ocidental, que foi colonizada pelos marroquinos e é rica em fosfato, do chamado "território liberado", onde a Frente Polisario mantém seus cerca de 10 mil soldados.
A Folha visitou uma das escolas do Exército saaraoui, poucos quilômetros dentro do território oficial do Saara Ocidental, que conta com 500 principiantes na doutrina militar da Polisario.
Doutrina essa que incorpora velhos jargões dos "exércitos populares": não há hierarquia, apenas soldados mais novos e outros mais velhos -que comandam.
Apenas os soldados formados usam o tradicional turbante preto com a roupa militar.
Ahmed é o líder doutrinário da escola visitada pela Folha, cuja localização exata não foi revelada.
"Nós treinamos os guerreiros da liberdade", afirmou Ahmed, 40 anos e 22 de Exército. Entre um gole e outro do chá verde tradicional da região, ele descreveu o sistema militar saaraoui.
Todo jovem de 15 a 18 anos que já estudou é convidado a participar do Exército por pelo menos seis meses, mas aqueles que querem estudar no exterior são poupados.
Não existe soldo, assim como não existe salário na região -algumas trocas são feitas em dinar argelino, e artesanato é vendido em dólares a visitantes.
Nas décadas de 70 e 80, Cuba foi a grande incentivadora da doutrina militar saaraoui. Oficiais de Fidel Castro vinham até o deserto treinar comandantes. Hoje, essa função e o fornecimento de armas ficou por conta da Argélia, interessada em desestabilizar o rival Marrocos pelo sul.
O armamento varia, sendo sua maioria roubado dos marroquinos. A arma padrão é o fuzil russo Kalachnikov, mas o concorrente M-16 norte-americano é comum. Há quatro grandes museus com tanques tomados de Marrocos.
(IG)

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