São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Saddam quer dividir Conselho da ONU

PATRICK COCKBURN
DO "THE INDEPENDENT", EM JERUSALÉM

Nós já vimos isto antes. Confrontos entre o presidente Saddam Hussein e o resto do mundo se tornaram um ritual de passos conhecidos: uma provocação dele, ameaças militares americanas, manobras na ONU, a chegada de correspondentes da CNN a Bagdá.
Por que Saddam escolheu este momento? Provavelmente porque o Iraque quis dividir o Conselho de Segurança, que tem Rússia, França e China interessados no final das sanções econômicas impostas ao país. Eles não acompanharam os EUA e o Reino Unido em suas propostas de novas retaliações.
Mas há mais coisas por trás das aparências. Como diz Tony Lake, ex-conselheiro de segurança do governo americano, "os EUA têm Saddam em uma caixa". Será que ele pensa que pode sair agora? A resposta é importante, porque a dominação americana do Oriente Médio começou em 1991, depois da Guerra do Golfo.
O Iraque acusa os EUA de utilizar a Comissão de Desarmamento como desculpa para manter as sanções. Os EUA dizem que o Iraque tem escondidos restos de seus programas nuclear, químico e biológico.
Ambos estão certos. Washington quer manter o Iraque enfraquecido. Gostaria de depor Saddam Hussein. Com um golpe, não com uma revolução. Não quer que o Iraque fuja do controle, com a maioria xiita flertando com o Irã e a minoria curda buscando independência. É útil ter Saddam como uma ameaça na região, mantendo a Arábia Saudita e o Kuait fortemente aliados aos EUA.
Mas também não há dúvidas de que o Iraque tenta esconder seu arsenal estratégico.
O tamanho desse arsenal não deve ser grande. O Iraque lançou com sucesso mísseis Scud contra a Arábia Saudita e Israel na Guerra do Golfo, sem nenhum benefício próprio. Não ousou usar armas químicas ou gases que afetam o sistema nervoso, que tinha em estoque, com medo da retaliação.
É irracional o líder iraquiano lutar para manter essas armas, pois elas servem como desculpa perfeita para os americanos manterem o embargo. A explicação seria a megalomania de Saddam, que quer mostrar ao mundo que não pode ser tapeado. Seu comportamento recente atesta sua compreensão da política iraquiana. Ele, porém, não sabe medir o tamanho da reação internacional a seus atos.
O desejo de confronto de Saddam reflete sua confiança de que sua força está crescendo. Mas os EUA lutarão para manter o domínio do Oriente Médio. Isso significa manter o status quo de 1991 e o embargo ao Iraque.

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