São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997
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Os promíscuos

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O deputado federal Arnaldo Madeira (PSDB-SP) liga para introduzir o que chama de "nuance" na frase reproduzida anteontem neste espaço a respeito do entendimento Fernando Henrique Cardoso/Paulo Maluf.
Madeira fora citado como tendo dito que "apoio não se recusa", no que parecia um habeas corpus preventivo para o acordo que seria fechado depois entre o presidente e o ex-prefeito paulistano.
Madeira alega que a frase dizia respeito ao apoio dos malufistas às reformas que o governo FHC quer aprovar e não necessariamente ao apoio de Maluf à recandidatura do presidente.
O deputado tucano diz que condena severamente o entendimento FHC/Maluf, na questão sucessória, porque passa a impressão de "promiscuidade". Madeira acha que tucanos e malufistas são tão diferentes que não faz o menor sentido buscar o apoio de Maluf. "Não agrega nada", diz.
Em pelo menos um ponto, Madeira tem toda a razão: o acordo FHC/Maluf tem toda a cara de uma promiscuidade inaceitável. Depois de ter se coligado com PFL e PTB (outro sinal, aliás, de promiscuidade), o acordo recente entre FHC e Maluf recria uma espécie de "Arenão", o partido que deu suporte ao regime militar.
Para quem, como o presidente, esteve o tempo todo na oposição ao ciclo autoritário, essa comparação já é negativa. Mas o mais grave é que FHC está reproduzindo também o que seu amigo, o sociólogo argentino-brasileiro Guillermo O'Donnell, chamou certa vez de "transição todos com todos".
Referia-se ao conglomerado que apoiou Tancredo Neves/José Sarney, na passagem da ditadura para a democracia. Não deu certo para o país, como, de resto, previa O'Donnell.
Agora, a tendência é não dar certo de novo, ainda que seus caciques se dêem bem eleitoralmente. Promiscuidade não é apenas uma coisa feia. É também ineficaz.

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