São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Ministro pede fiscalização

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"O Tribunal de Contas da União é necessário, tem que funcionar bem. E é preciso que seja submetido à cobrança do poder público e à fiscalização da sociedade."
A opinião é do ministro Carlos Átila Álvares da Silva, do TCU, que defende "o investimento no aprimoramento do órgão".
Ele propõe maior investimento em pessoal e diz que a fiscalização tem que ser "exemplar, de elite". "É preciso ter paciência", afirma o ministro.
Em 1994, Carlos Átila perdeu a paciência e fez forte pronunciamento no plenário do tribunal, diante da impotência do TCU e da morosidade da Justiça brasileira.
Arquivamento
Ele analisava o pedido de arquivamento pela Justiça -16 anos depois da conclusão do processo no TCU- dos autos relativos a funcionários do Ministério dos Transportes que haviam se apropriado de dinheiro público, inserindo nomes falsos nas folhas de pagamentos de inativos, entre 1969 e 1974.
"Não posso aceitar passivamente esse absurdo kafkiano às avessas, em que os encarregados de promover a justiça tropeçam nos cadarços processuais, enquanto o infrator comprovado escapa impune, sem nem sequer se dar ao trabalho de responder a citações e notificações", afirmou o ministro.
Depois de condenados pelo TCU e notificados, os responsáveis não ofereceram nenhuma alegação. Tampouco atenderam ao chamamento para recolher as quantias.
No período, o Ministério Público junto ao TCU expediu 61 ofícios, 35 dos quais à Procuradoria da República, no Rio de Janeiro.
"Daí o desânimo de que fui tomado, ao perceber que, na verdade, o empenho que temos aplicado, para racionalizar e aprimorar os métodos e procedimentos de trabalho do tribunal, ao final se torna inútil", afirmou o ministro do TCU.
Caso da mandioca
Carlos Átila também citou, na ocasião, a frustração com os resultados da investigação do chamado "escândalo da mandioca", fraude milionária, com desvio de financiamento agrícola, em Pernambuco, ocorrida em 1982.
O TCU julgou o caso em dois anos. Dez anos depois, metade dos processos não tinha sido executada.
O tribunal não tem poderes para executar cobranças judiciais e fez convênio com a Advocacia Geral da União, em 1995, para tentar racionalizar o sistema, dando ao tribunal participação mais ativa.
Em articulação com o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o procurador Marinus Vries Marsico, do Ministério Público junto ao TCU, está fazendo um levantamento dos bens dos envolvidos no "caso da mandioca".
A pesquisa indicou que 40% dos envolvidos têm carro e quase 20% têm fazendas. A idéia é pedir a penhora dos bens, que é uma das únicas garantias da execução judicial da dívida.
Segundo Marsico, com sinal verde do Incra, duas fazendas de 6.000 hectares já foram oferecidas como dação em pagamento.
(FV)

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