São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Empresários prevêem recessão

FÁTIMA FERNANDES; VANESSA ADACHI

VANESSA ADACHI; FÁTIMA FERNANDES; CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para empresários e economistas, o pacote fiscal a ser anunciado hoje pelo governo é considerado um mal necessário que pode, dependendo da intensidade e do tempo de duração, levar à recessão.
"As medidas serão obrigatoriamente recessivas. Não existe medida eficaz que não seja recessiva. Se o governo fizer o que promete, este Natal será pior do que se imaginava", diz Nelson Barrizzelli, economista e consultor de varejo.
Para ele, se o governo aumentar a CPMF, de 0,20% para 0,25%, cerca de R$ 1 bilhão deve sair do mercado de consumo em um ano. "A venda do comércio vai cair."
Também na indústria, o clima é de apreensão. "O governo sabe que o parque industrial quebra se os juros atuais forem mantidos. Adota um pacote fiscal para ter mais flexibilidade na política monetária", diz Horácio Lafer Piva, vice-presidente da Fiesp.
"Estamos no limiar de uma crise recessiva que pode colocar o país em uma camisa-de-força", afirma Piva. Ele espera que o "provisório não se torne definitivo" e defende, como solução de longo prazo, as reformas constitucionais.
Para o presidente da Estrela, Carlos Tilkian, o pacote fiscal "é como uma injeção. Não é bem-vindo, mas é necessário".
Sergio Haberfeld, presidente da Abre (Associação Brasileira de Embalagens), concorda: "Eles precisam fazer um ajuste fiscal. Mas se os juros permaneceram altos por muito tempo virá a recessão e o desemprego".
Para Haberfeld, dependendo do tamanho do aumento dos impostos, deve crescer a sonegação.
A indústria de máquinas só espera que o governo mexa também nos tributos que incidem sobre as importações. "Se tem que aumentar os impostos, que seja para todo mundo, pois não queremos perder competitividade", afirma Sérgio Magalhães, presidente da Abimaq, que reúne os fabricantes.
Segundo ele, a carga tributária incidente sobre a máquina brasileira representa cerca de 30% do seu valor e em outros países é zero.
Para o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, a elevação do IPI renderia pouco para o governo e poderia fazer um bom estrago na estabilização da economia.
"O fumo ainda pesa muito na inflação do país. E apenas 35% da receita fica efetivamente para o governo federal", acredita Mailson.
Em relação à CPMF, ele diz que existe a vantagem de 100% da arrecadação ficar com o governo federal. "Mas, é o pior imposto que temos, porque incide em cascata. Além disso, continuaria o processo de expulsão dos investidores estrangeiros. Se estivesse hoje no BC me oporia ao aumento da CPMF".
Para ele, a Constituição de 88 representa uma grande camisa de força para que o governo consiga equilibrar sua situação fiscal.
Colaborou Cristiane Perini Lucchesi

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