São Paulo, sábado, 15 de novembro de 1997
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Brasil já perdia com o processo de globalização muito antes da crise

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil tem sido um dos principais perdedores no processo de globalização.
O que para muitos especialistas parece óbvio hoje, depois da crise que abalou os mercados financeiros internacionais nas últimas semanas, era verdade antes mesmo do surgimento desses problemas.
Essa já era, há alguns meses, a opinião de Peter Nunnenkamp, diretor do departamento de estudos sobre o desenvolvimento econômico do Instituto Kiel para a Economia Mundial, da Alemanha.
Até a adoção do Plano Real, o Brasil perdeu a chance de aproveitar o processo de globalização para integrar-se mais estreitamente na divisão de trabalho da economia mundial, o que poderia ajudar na recuperação do seu atraso econômico.
À semelhança de outros países latino-americanos, aumentou -em vez de diminuir- o fosso entre a renda média "per capita" dos brasileiros e a dos países industrializados, entre 1985 e 1994, justifica Nunnenkamp.
Depois do Plano Real, o Brasil começava a usufruir um pouco melhor das possíveis vantagens da globalização, mas algumas questões pendentes, como a do déficit público, continuavam a ser um entrave para que o país pudesse realmente ganhar com as novas regras do jogo internacional.
Essa análise sobre como o país pouco ganhou com a globalização foi desenvolvida por Nunnenkamp em um dos capítulos do livro "Inserção na Economia Global: Uma Reapreciação", publicado recentemente pela Fundação Konrad-Adenauer-Stiftung, de origem alemã. (A fundação não cobra pelas obras que edita e envia pelo correio os livros para quem se interessar por eles.)
Águias atentas
Cada capítulo trata de um aspecto específico de como os países se posicionam diante do fenômeno da globalização.
Além de Nunnenkamp, três outros autores escreveram sobre o impacto da globalização no Brasil.
No mais interessante desses três capítulos, Luciano Coutinho, professor de economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), trata da competitividade, especialmente no setor industrial.
No primeiro capítulo, Ricardo Prado, coordenador científico da fundação que edita o livro, traça um painel de como os diversos blocos econômicos estão sendo afetados pela mudança no cenário internacional.
Embora seja um texto eminentemente técnico, alguns trechos desse capítulo acabam lembrando vagamente a descrição de aventuras num best seller, como o que descreve a atuação do mercado financeiro globalizado: "Do topo de instituições financeiras bem equipadas em infra-estrutura de informática e telecomunicação, pessoas com acuro e memória se debruçam, dia e noite, vasculhando como águias o globo atrás de diferenciais de rentabilidade...".

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