São Paulo, sábado, 15 de novembro de 1997
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Polêmica ainda sobrevive entre críticos

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Furacão na Botocúndia" não é o primeiro livro que se debruça sobre o relacionamento de Monteiro Lobato com os modernistas.
Há dois anos, Tadeu Chiarelli -curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM)- lançou "Um Jeca nos Vernissages", que analisa o papel do ficcionista de Taubaté como crítico.
O estudo conclui que Lobato tinha todas as condições de executar a função. Rebate, por exemplo, as idéias do ensaísta Sérgio Milliet (1898-1966), que encarava assim as hostilidades do escritor paulista às expressões modernistas:
"Uma manifestação de despeito que se evidenciará principalmente na sua crítica de arte baseada na concepção primária de uma pintura fotográfica, de uma escultura naturalística, o que se origina por certo da ingênua convicção num progresso contínuo, na superioridade de nossa civilização ocidental sobre as demais".
O curador do MAM escreveu exatamente o contrário: "Na crítica de arte paulistana, ele (Lobato) era o mais capacitado e original dos críticos".
"Quando refletiam sobre o modernismo", explicou Chiarelli à Folha, "Mário de Andrade e outros líderes do movimento tentavam construir a história ideal, que lhes interessava. Acabaram gerando um punhado de heróis e um vilão-mor: Monteiro Lobato."
O crítico literário Wilson Martins, professor emérito da New York University, segue o mesmo raciocínio. "Ver Lobato como reacionário é uma distorção histórica, uma monstruosidade, fruto da ciumeira dos modernistas."
O professor define Lobato como "um espírito moderno, embora não modernista".
Diz mais: que o escritor lançou as bases da Semana de 22. "Em 1918, com a publicação de 'Urupês', Lobato já defendia teses que, depois, o modernismo encampou. Combatia os excessos retóricos e o lusitanismo do estilo."
Há, no entanto, quem ainda sustente outro raciocínio. "Lobato não é um pré-modernista. Estava ligado à literatura anterior, acadêmica. Sempre se manteve preso à correção gramatical e à sintaxe típicas do português que se fala em Portugal", afirma o crítico Décio de Almeida Prado.
"A carta para Mário", continua, "pode revelar muito sobre o homem Lobato, um sujeito que não tinha tanta rigidez no trato com os outros. Mas como escritor era, sim, um retrógrado."
(AA)

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