São Paulo, sábado, 15 de novembro de 1997
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Iraque pede 'diálogo sério' com ONU

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O Iraque pediu ontem ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que abandone o que chamou de "retórica norte-americana" e inicie "diálogo sério" com seu governo.
O vice-primeiro-ministro iraquiano, Tareq Aziz, que deixou Nova York ontem após cinco dias de tentativas infrutíferas de falar durante sessão do Conselho, disse que seu país está pronto a colaborar com a comissão de inspeção do processo de desmanche das armas de destruição em massa do Iraque desde que não haja cidadãos norte-americanos na sua composição.
Segundo ele, o diálogo da ONU com o Iraque deveria se centrar na composição nacional da comissão.
Pelos termos do acordo de cessar-fogo da Guerra do Golfo, de 1991, as sanções econômicas impostas ao Iraque um ano antes só poderão ser suspensas depois que uma comissão da ONU certificar que o país desmontou todas as suas armas nucleares, químicas, biológicas e mísseis balísticos.
No dia 29 de outubro, sob o argumento de que os EUA controlam politicamente a comissão e a impedem de atestar que o Iraque já cumpriu as exigências do cessar-fogo, o governo de Saddam Hussein deixou de admitir norte-americanos entre os inspetores.
Anteontem, expulsou do país os seis norte-americanos da comissão. O chefe da comissão resolveu, em represália, retirar do país todos os seus integrantes.
Os EUA enfrentam dificuldades crescentes para manter a unidade da coalizão que enfrentou o Iraque na Guerra do Golfo em 1991 e entre os 15 atuais integrantes do Conselho de Segurança da ONU.
A China, que atualmente preside o Conselho, retardou por horas a mais recente condenação ao Iraque, divulgada na madrugada de ontem, porque seu governo se ofendeu com críticas feitas pelo embaixador dos EUA junto à ONU, Bill Richardson, à sua política de direitos humanos no Tibete.
A Rússia criticou o presidente da comissão de inspeção de armas iraquianas, o australiano Richard Butler, por ter retirado todos os seus integrantes do Iraque após a expulsão dos norte-americanos.
O Egito, membro provisório do Conselho, não aceita que sejam feitas ameaças militares ao Iraque.
A Jordânia, que como o Egito integrou a coalizão de 1991, também quer evitar qualquer ação militar. O rei Hussein, que está em Washington para tratamento médico, esteve ontem com o presidente Bill Clinton e lhe expôs sua posição.
Mas a França, que também se opunha à menção de uso de força contra o Iraque, deu ontem o primeiro indício de que pode mudar de posição. O presidente Jacques Chirac disse que, se o Iraque continuar a resistir às ordens da ONU, a opção militar será considerada.
Analistas diplomáticos acham que, de fato, a ONU já dispõe de muitos poucos instrumentos de punição para aplicar contra o Iraque além de proibir viagens ao exterior de seus governantes.

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