São Paulo, sábado, 15 de novembro de 1997
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BOCA A BOCA NA BOLSA

Dúvidas sobre o desfecho da crise atual não faltam. O governo agora acerta no atacado e tenta evitar o pior. No varejo, repete cenas típicas de pacotes, em que deslizes e medidas de impacto apenas psicológico misturam-se a decisões acertadas.
Um exemplo de deslize foram os pronunciamentos contraditórios da Fazenda sobre a fixação de preços em operações com cartão de crédito.
Além do "saco de maldades" citado pelo presidente do BC, Gustavo Franco, há também de um "saco de improvisos" que só atrapalham.
Registrem-se igualmente esforços louváveis. São positivas algumas das medidas para atenuar a fuga de capitais das Bolsas. As empresas foram autorizadas a dobrar a quantidade de títulos próprios que podem recomprar. E o BNDES ofereceu um crédito de R$ 1 bilhão para financiar tais recompras a juros favorecidos.
No passado falou-se muitas vezes em operações "chapa branca", quando o BNDES ou o Banco do Brasil atuaram nas Bolsas para sustentar cotações. O estímulo à recompra é mais uma forma de reanimar o mercado, ainda que em última análise continue sendo "chapa branca". Mas ao menos ajuda a evitar o pior.
É de todo modo inevitável reconhecer que a crise de confiança, a essa altura, tem causas predominantemente macroeconômicas. Nesse sentido, é eloquente a decisão de reduzir de 3 anos para 6 meses o prazo de captação de recursos no exterior.
Afinal, há poucas semanas o governo priorizava atrair capitais "bons", de longo prazo. Facilitar a vinda de recursos de curto prazo dá uma medida da gravidade da situação.
Em meio a uma crise que transcende o poder das autoridades nacionais, os governos às vezes se limitam a fazer uma operação de salvamento, evitando a catástrofe. É, aliás, o que mandam os manuais de finanças: quando há uma crise de liquidez, é preciso injetar recursos no sistema financeiro. Mas isso fica ainda longe do que seria necessário para de fato recolocar a economia em pé.

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