São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Procuradoria investiga desapropriações

BERNARDINO FURTADO
DO ENVIADO ESPECIAL

No Estado do Mato Grosso, a reforma agrária na fronteira agrícola revela um paradoxo de outra natureza. Apesar de possuir um estoque de 2,13 milhões de hectares de terras da União, ou 21,3 mil km², uma área quase do tamanho do Estado de Sergipe (22.050,4 km²), o Incra desapropriou ou comprou no Mato Grosso, de dezembro de 96 até outubro de 97, 2,07 milhões de hectares de terras pertencentes a grandes empresas e fazendeiros.
Essa política gerou duas representações assinadas pelo procurador da República no Mato Grosso José Pedro Taques, que ainda estão em andamento.
Taques diz que "não se deu por satisfeito" com as explicações do superintendente regional do Incra, Elarmim Miranda. "O superintendente não informou com precisão onde estão essas terras devolutas que o Incra arrecadou nas décadas de 70 e 80. Há denúncias de que foram desapropriadas fazendas vizinhas."
O procurador está investigando também a compra pelo Incra de 41 mil hectares de terras particulares, em 95 e 96, por R$ 34.162.056,10.
Ele afirmou que, mesmo considerando que as fazendas estão localizadas numa das regiões mais valorizadas do Mato Grosso (o sul), não se justifica o pagamento de até R$ 1.672,47 por hectare. Ele disse que o valor máximo que as fazendas da região têm alcançado é de R$ 700 por hectare.
A maior fazenda comprada foi a Santo Idelfonso, de 18.722,50 hectares. Localizada em Novo São Joaquim, a fazenda era do Banco do Brasil e custou R$ 6.031.266,15 ao Incra em abril de 95, ou R$ 622 por hectare, num município em que, segundo o procurador, as fazendas têm sido vendidas por R$ 500. O BB havia arrematado a Santo Idelfonso para liquidar a dívida do antigo proprietário, a Noidore Agropecuária.
A segunda maior fazenda foi a Sadia 2, de 10.133,7 hectares, no município de Cáceres, comprada por R$ 9.446.31,66, com média de R$ 924,29 por hectare, da empresa Sadia Oeste Ltda.
Pedrinho Antônio Furlan, consultor jurídico do grupo Sadia, rechaça as suspeitas de superfaturamento. Segundo ele, a Sadia 2 era uma fazenda modelo dedicada ao melhoramento genético de bovinos de corte, altamente produtiva, e só foi vendida porque, por opção estratégica, a empresa decidiu se retirar do ramo de produção e abate de bovinos para se concentrar na industrialização da carne.
"Vendemos barato, até porque o pagamento foi em TDAs (Títulos da Dívida Agrária), que são negociados com um grande deságio no mercado", afirma.

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