São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Para MST, Incra assenta em área inóspita

BERNARDINO FURTADO
DO ENVIADO ESPECIAL

O coordenador do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Mato Grosso, Waldir Corrêa, acusa o Incra de estar fazendo uma política de assentamentos no Estado destinada a "engordar as estatísticas do programa nacional de reforma agrária", sem se preocupar com a viabilidade dos projetos.
Segundo ele, mais de 80% da área desapropriada pelo Incra no Mato Grosso desde dezembro de 96 está localizada em regiões inóspitas, sem infra-estrutura e muito distantes do mercado consumidor.
"Há áreas de assentamento de 95 e 96 que a maioria das famílias abandonou, e uma boa parte morreu de malária. Basta dizer que nem o antigo proprietário chegou a explorar a terra."
É o caso das fazendas Mercedes Benz, uma gleba de 103,7 mil hectares desapropriada em setembro de 96. O laudo da vistoria do Incra, de julho de 97, diz: "Não existe atividade pecuária nem benfeitorias nem exploração agrícola nem atividade extrativa".
No processo judicial de desapropriação consta apenas uma certidão datada de 14 de dezembro de 93, registrando a extinção de condomínio entre a Terras Novas Administração e Empreendimentos e Imobiliários Ltda. e a Sequóia Administração e Empreendimentos, atestando que a última empresa se tornou dona isolada das fazendas Mercedes Benz.
A Folha tentou ouvir o presidente da Sequóia, Oscar Americano Neto, por telefone, nos dias 7, 10, 11 e 12 últimos, tanto na sua casa quanto em seu escritório, mas não teve sucesso.
Outra grande desapropriação no norte do Mato Grosso atingiu, em novembro de 95, 52,5 mil hectares de um total de 152 mil hectares pertencentes à Agropecuária do Cachimbo S/A.
Florestas
O Incra ofereceu R$ 3,35 milhões pela área, mas os proprietários da empresa, Narciso Ometo e Luiz Cera Ometo, donos de usinas de açúcar na região de Ribeirão Preto (SP), contestaram o valor, reivindicando indenização das florestas nativas. A desapropriação de outra área de 50 mil hectares está em fase administrativa no Incra-MT.
Breno Machado Gomes, diretor da Cachimbo, diz que a empresa tinha projeto para colonizar toda a gleba que lhe pertencia. Segundo ele, a primeira fase do projeto foi concluída em 86, com a criação da cidade de Matupá, ocupando 5.000 hectares, e a venda de lotes de 20 a 50 hectares para colonos numa área de 20 mil hectares.
(BF)

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