São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Igreja quer 'ética' no Mercosul e na Alca

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Começa hoje no Vaticano um encontro inédito nos quase 2.000 anos de existência da Igreja Católica. Trata-se da Assembléia Especial para a América do Sínodo dos Bispos, que, pela primeira vez, vai reunir religiosos de todo o continente americano. O encontro deverá propor "diretrizes éticas" para o Mercosul e a Alca.
O sínodo será coordenado pelo papa João Paulo 2º e terá como tema "Encontro com Jesus Cristo Vivo, Caminho para a Conversão, a Comunhão e a Solidariedade na América". Seu objetivo é discutir os rumos da Igreja Católica no continente e sugerir propostas de mudanças que poderão, ou não, ser acolhidas pelo papa.
A delegação brasileira, com 22 bispos e arcebispos, é a maior. A escolha dos delegados foi feita em eleição realizada em abril, na última Assembléia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em Itaici (interior paulista). Foram eleitos 15 delegados.
Além dos delegados, vão ao sínodo os cinco cardeais brasileiros e dois outros bispos convidados pelo papa (veja a lista abaixo).
Por problemas de saúde, o arcebispo de Santa Maria (RS), d. Ivo Lorscheiter, que havia sido eleito delegado, não poderá participar. Ele sofreu uma hemorragia causada por uma úlcera no duodeno.
Lorscheiter, que está se recuperando bem, será substituído pelo suplente, d. Irineu Danelon, de Lins (453 km a noroeste de SP).
Entre as principais propostas que serão apresentadas pelos brasileiros está a criação de uma nova entidade, que reúna os bispos de todo o continente. Hoje, a entidade com maior abrangência é o Celan (Conselho Episcopal Latino-Americano), que reúne a América do Sul, a Central e o Caribe.
Os blocos comerciais como a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e o Mercosul vão entrar na agenda do sínodo por sugestão dos bispos latino-americanos.
O objetivo é aproveitar o destaque internacional do encontro para incentivar os acordos comerciais regionais, vistos como exemplos de solidariedade. Mas, ao mesmo tempo, eles deverão ser regidos por princípios éticos que evitem a predominância de um país.
"A Alca não poderá sufocar o Mercosul", diz d. Demétrio Valentini, da Pastoral Social da CNBB. "A expectativa geral é que as discussões econômicas dominem. A América é a expressão das contradições do mundo, sintetiza os pólos de riqueza e de pobreza."
Segundo o bispo-auxiliar de São Paulo, d. Antônio Celso Queiroz, a "temática evidente do sínodo é a solidariedade intercontinental. Seria interessante fazer uma contraproposta à Alca, do Bill Clinton. Não é possível uma aliança comercial em que há vantagens para alguém impor seus produtos", diz.

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