São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Ganha mais força a tese de controlar os capitais

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Mahatir bin Mohamad, o líder da Malásia, é um antigo e feroz crítico do modelo econômico e cultural no Ocidente.
Por isso, quando ele disse, em setembro deste ano, que a Malásia decretaria a ilegalidade das transações com moedas, seu gesto foi visto como manifestação quixotesca de seu fundamentalismo econômico.
Não mais. O jornal "The International Herald Tribune", em sua edição da última sexta-feira, colecionou avaliações que vão na mesma direção das feitas pelo líder da Malásia, com mais moderação, claro.
A mais eloquente é a de Joseph Stiglitz: "Em algumas circunstâncias, desenvolver instrumentos de política para permitir maior controle sobre os surtos de capital de curto prazo pode ser importante".
Por que eloquente? Porque Stiglitz é vice-presidente sênior e economista-chefe do Banco Mundial, além de ter sido chefe do conselho de assessores econômicos do presidente dos EUA, Bill Clinton.
Pôr "areia nas rodas do capital internacional", como o próprio Stiglitz sugere agora, era anátema para as instituições internacionais.
O presidente Fernando Henrique Cardoso sentiu na pele como é difícil vender teses sobre algum tipo de controle dos capitais especulativos.
FHC, a rigor desde a posse, vem batendo nessa tecla. O primeiro governante que recebeu em Brasília, o primeiro-ministro canadense Jean Chrétien, ouviu propostas do gênero e se comprometeu a levá-las à cúpula anual do G-7, o clube dos sete países mais ricos do mundo, que, naquele ano (95), seria no Canadá.
Depois, em discurso em Santiago do Chile, no mesmo ano, FHC tornou públicas as suas queixas, que repetiria em sucessivas cartas aos líderes do G-7.
Hoje, dois anos e meio depois, o presidente classifica de "tímidas" as respostas dos países ricos e da comunidade financeira internacional ao problema.
Agora, até o FMI (Fundo Monetário Internacional) faz uma concessão às inquietações das vítimas da turbulência financeira.
Seu diretor-geral, Michel Camdessus, afirma que, em dezembro, em reunião dos ministros de Finanças da Bacia do Pacífico, o foco será sobre "que tipo de novos regulamentos deveriam ou não ser considerados, de forma a introduzir disciplina nos mercados".
Tudo somado, tem-se "crescente consenso de que há espaço para uma ação política, tanto no plano doméstico quanto no internacional", como diz Amar Bhattacharya, assessor do Banco Mundial.
O problema todo é que sugestões concretas inexistem. Mesmo a Malásia, como anfitriã da mais recente cúpula do G-15, um conglomerado de países em desenvolvimento que inclui o Brasil, não conseguiu produzi-las no mês passado.
O documento que o G-15 emitiu sugere apenas que os países em desenvolvimento, o FMI e o Banco Mundial se unam para estudar o mercado cambial, "com vistas a regulá-los apropriadamente, tornando-os mais abertos e transparentes".
(CR)

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