São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Até boa notícia vira ruim

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

A interligação da economia internacional se tornou tão intensa que uma boa notícia em um lado se torna uma ameaça para o outro.
Exemplo: a crise coreana.
Enfraquecida por uma série de falências de seus "chaebols", as super-corporações, a moeda coreana começou a cambalear desde o início do ano: perdeu cerca de 20% de seu valor, desde então, e ameaça romper o barreira psicológica de 1.000 wons por dólar.
Mas esse sinal de debilidade do organismo econômico do país é positivo para os exportadores. Quem precisava gastar, por exemplo, US$ 100 para comprar um produto coreano em janeiro, agora compra o mesmo produto por US$ 80, pouco mais ou menos.
Mesmo esse lado positivo acaba sendo negativo para quem compete com os produtores coreanos, até nos países poupados pela crise global.
Taiwan, por exemplo, conseguiu escapar da tempestade nas bolsas e no câmbio.
Como se trata de um país especializado na exportação de equipamentos de tecnologia da informação (ou informática), sofre com a concorrência dos produtos coreanos.
Muitas empresas do setor em Taiwan já prevêem que o último trimestre de 1997 será o pior em dois anos, mesmo sabendo que é no Natal que fazem um terço de suas vendas anuais.
O novelo da crise é tão intrincado que foi enredando todas as gerações dos chamados "tigres" asiáticos.
Começou por um "tigre" de terceira geração, a Tailândia, em julho, propagou-se pelos de segunda geração, Hong Kong e Coréia, e ameaça até o "tigrão", pai e modelo de todos, o Japão.
Um sinal entre muitos da crise japonesa: o chamado "Prêmio Japão", a sobretaxa que as financeiras cobram pelo risco de um país, pulou, esta semana, para 0,18%, quando a média dos meses anteriores não ia além de microscópico 0,05%.
Se a crise japonesa se agravar, aí sim é que o rabo vai balançar muito o cachorro, na metáfora usada por David Whyss.
"Uma crise financeira no Japão afetaria seriamente a economia mundial", diz Carl Weinberg, consultor econômico de Nova York.
Kenneth Courtis, economista em Tóquio do Deutsche Morgan Grenfell, depois de advertir que a economia japonesa caminha para "zonas de perigo", diz que a situação "poderá ser bem mais perturbadora para o mundo do que a turbulência em outras partes da Ásia".
É lógico: o Japão é a maior economia asiática e a segunda maior do mundo.
A perturbação viria até do lado político: com o iene se enfraquecendo cada vez mais, as exportações japonesas crescem, e explode o saldo nas contas com o exterior.
No primeiro semestre do ano fiscal japonês, encerrado em setembro, o saldo em conta corrente (que mede todas as transações com o exterior) aumentou 76% na comparação com o período anterior.
(CR)

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