São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Agora começa o Campeonato Brasileiro

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Lisboa. Uma semana fora e perde-se o clima da disputa. Mas não é preciso nenhum exercício maior de imaginação para dizer que agora está começando o Campeonato Brasileiro, pois há um título em jogo.
E é hoje que se vai ver quem tem garrafa cheia pra vender. Estará a Lusa predestinada a morrer na praia, como de hábito? Afinal, pega o Flamengo, na casa do inimigo -um Flamengo que, sob o comando de Paulo Autuori, se não deslumbra, ao menos joga organizadamente e com a velha disposição rubro-negra.
Já o Palmeiras de Scolari, em casa, terá de provar diante do bem arrumado Inter que é mesmo o grande candidato paulista ao título.
Não vai ser fácil.
*
Esse inglês me persegue. Bob Robinson, que fez aquela lambança no Barcelona de Ronaldinho e cia., desembarcou em Lisboa anteontem, para reassumir o Sporting, de onde fora despachado tempos atrás.
Graças aos céus, estou de partida.
*
Enrola-se a negociação de Robinson com o Sporting, e já se fala na possibilidade de Parreira ser o escolhido.
*
Chegou o café quentinho na nossa mesa do Cassino Estoril. Distraído, pesco na cestinha um envelope que se distingue dos de adoçante. É açúcar? Não é? Na dúvida, espio: é negro, e ostenta a palavra "café" bem visível. Devolvo e reencontro os tradicionais adoçantes. Encafifado, volto ao envelope negro e descubro, finalmente, que, apesar de negro como o café e de trazer a palavra café em destaque, é o nosso velho e fatal açúcar cristalizado, branquinho como a pele de Isolda.
Então, recordo-me de um lance perdido na memória. Era treino da seleção brasileira no estádio da Luz, o campo do Benfica, aqui em Lisboa. No centro do gramado, o saudoso Sandro Moreyra assesta sua corrosiva ironia numa volta de 360 graus, mirando o céu. Completada, me faz um sinal. Posto-me ao seu lado, e acompanho-o no giro completo, captando a mensagem impressa nas torres de iluminação. Em cada torre, uma sílaba -"Benficabicampeãodomundo".
Compassivo, Sandro explica: "É o marketing à portuguesa: em cem mil espectadores, só o juiz consegue ler a mensagem por inteiro".
*
Conheci aqui o pai do brasileiro mais realizado do mundo: o veterano jornalista Antonio Figueiredo, cujo filho, Luís Cláudio, desde menino, sonhava em ser jogador de futebol. O pai, porém, obrigou-o a estudar. Contrariado, Luís Cláudio formou-se em educação física e resignou-se a aceitar um emprego burocrático na American Air Line.
Eis que a companhia resolve promover uma Copa do Mundo entre seus funcionários espalhados pelo planeta. Luís Cláudio, então, veste a camisa da seleção brasileira e pisa o sagrado solo do estádio de Wembley, templo do futebol, para disputar a final, contra a Argentina.
Resultado: Brasil 4, Argentina 0, quatro gols de Luís Cláudio. É ou não é o brasileiro mais realizado do mundo?

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