São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Um veemente não à recessão

CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA

Industriais e empresários, de modo geral, não aceitam o remédio da recessão para combater os efeitos da crise dos mercados financeiros no Brasil.
Apoiamos o governo na firme defesa da estabilidade da moeda, mas exigimos as reformas administrativa, tributária e da Previdência. Sem elas, as medidas tópicas de ajuste fiscal adotadas levarão o país a uma recessão, que ninguém quer. Ela é o pior dos mundos: quebra empresas, provoca desemprego e agrava os problemas sociais.
Para evitar a recessão, é também necessário inverter rapidamente a curva ascendente dos juros. E, se as taxas atuais persistirem até o final do ano, será imposta ao governo a adoção de políticas compensatórias para não pôr a pique o setor produtivo, especialmente as micro e pequenas empresas.
Se é que crises podem ter algum efeito positivo, essa ao menos acendeu nas lideranças do Congresso Nacional e no alto escalão do governo o sinal de alerta para a urgência das reformas constitucionais reclamadas pela sociedade.
Quanto mais se postergarem as mudanças estruturais, mais perigosamente o país vai expor a sua vulnerabilidade e mais dramáticos poderão ser os efeitos de abalos semelhantes no mercado financeiro internacional.
A repercussão da crise no país não se deu por acaso. Ela decorre, fundamentalmente, da velocidade incrível com que se dá a internacionalização da economia. O Brasil está inserido, inexoravelmente, no sistema globalizado.
Entretanto, como não fizemos a lição de casa das reformas até o fim, nossa estratégia econômica para manter o real está fortemente concentrada no câmbio e nos juros. Com o câmbio, controla-se a inflação; com os juros, contém-se a demanda interna e procura-se atrair capital externo.
O governo afirma que as medidas, duras e fortes, foram realmente indispensáveis. O que questionamos é se precisávamos esperar tanto para pôr em prática ações óbvias, como combate ao subfaturamento, corte de pagamentos a aposentados inexistentes ou demissão de funcionários excedentes.
A abrangência do pacote é muito grande. Todos seremos afetados, de alguma forma, pela maior carga tributária -que vai superar 31% do PIB- e pela excessiva elevação dos juros.
O setor produtivo, mais uma vez, terá suas atividades seriamente abaladas, especialmente os segmentos de bens de consumo duráveis, que já estavam sentindo os efeitos de uma certa retração na demanda. Será uma fase de adaptação difícil e, espera-se, passageira, porém com desdobramentos lamentáveis, como diminuição da produção e consequente aumento do desemprego.
Diante desse conjunto de expectativas, não há dúvidas quanto à conveniência da ampliação e da aceleração das privatizações.
A anunciada disposição do governo para caminhar nessa direção só pode ser elogiada. As privatizações ajudam a enfrentar o déficit, na medida em que os recursos obtidos com as vendas de estatais sejam empregados no abatimento da dívida pública.
Mas a verdadeira defesa contra as turbulências que estamos vivendo passa pelo aumento da competitividade da nossa economia, o que exige a reestruturação do Estado e o saneamento das finanças públicas. Só assim poderemos vislumbrar perspectivas concretas de crescimento econômico e desenvolvimento social.
Para estarmos à altura desse desafio, nunca é demais insistir, coloca-se a imperiosa e absoluta necessidade da realização das reformas constitucionais.
Num mundo globalizado e de capitais voláteis, não podemos fazer frente a tamanha complexidade com um sistema tributário totalmente superado e um Estado anacrônico, que punem quem produz e não atendem às necessidades da nação.
Toda crise sempre traz lições valiosas, desde que estejamos dispostos a aprendê-las. A que estamos atravessando demonstra, de maneira definitiva, a emergência das reformas. Não podemos mais suportar o custo do atraso. O Brasil tem pressa. Por tudo isso, não à recessão.

E-mail: cemf@fiesp.org.br

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