São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Olho vivo e faro fino

LAVÍNIA FÁVERO

Detetives alertam: onde tem fumaça, normalmente tem fogo
Participaram deste encontro os detetives particulares Eloy de Lacerda, 41, casado; Felipe Lacerda, 49, casado, e João Amaral, 63, solteiro.
Revista - Casos de desconfiança infundada são frequentes?
Felipe - Na maioria das vezes, quando a pessoa chega ao detetive, já está tropeçando nas suas próprias provas: sentiu um perfume diferente, viu alguma mancha de batom na camisa, ouviu um telefonema. Ela paga querendo apenas as provas. Mas eu já atendi um marido paranóico, que desconfiava que a mulher pulava a janela da casa deles à noite só porque ele tinha o sono pesado.
João - Há os clientes permanentes, que, mesmo sabendo que não existe nada, querem alguém para vigiar a mulher. Outras já sabem das amantes e só querem saber o andamento dos casos do marido.
Eloy - E as que contratam para saber onde anda o marido, só para poderem ir para o outro lado mais descansadas...
Revista - E o contrário também existe: pessoas procurarem vocês só para terem certeza se está tudo bem e acabarem descobrindo que são traídas?
Felipe - Já atendi casos de mulheres que me descreveram a amante do marido, querendo apenas uma confirmação. Durante a investigação, descobri que a tal amante não existia, mas que o marido mantinha um envolvimento homossexual. Também há casos em que a gente passa muito tempo investigando e não consegue descobrir nada.
João - Uma vez um homem me contratou dizendo que era só para ficar de bem com sua consciência, porque ele tinha certeza que sua mulher era honesta. Acabei descobrindo que ela tinha três amantes, um para cada turno.
Revista - Existem pessoas que, mesmo com as provas na mão, não tomam atitude nenhuma?
Eloy - Às vezes, as pessoas se calam. Até porque existem muitos fatores em jogo num casamento, dos filhos à questão financeira. Há clientes que investigam o parceiro porque o traem e querem ter algum tipo de documento para se defender quando forem descobertos. A pessoa guarda tudo e continua convivendo da mesma maneira. O engraçado é que homens e mulheres têm reações diferentes: a mulher traída liga para a mãe, para as amigas, pede conselhos. O homem, não. Para ele é tão doloroso ser traído que ele prefere não comentar com ninguém.
João - Alguns homens até pedem exame de corpo delito, para provar que a mulher teve relações, registram ocorrência de adultério na polícia... Depois, quando a fúria passa, eles pagam os delegados para arquivar o processo.
Revista - Se a coisa for passageira, vocês aconselham o cliente a perdoar?
Felipe - Com certeza. Diferente do que as pessoas pensam, a função do detetive particular é construir e não destruir casamentos. O pior é você ficar na dúvida, não saber o que está acontecendo. Às vezes, é só uma aventura e o casamento ainda pode ser salvo.
Eloy - O casamento pode até melhorar depois de descoberta, porque as pessoas repensam suas atitudes, tentam mudar o que deu errado...
Revista - As mulheres traídas não acabam confundindo as coisas e querendo de vocês mais do que a investigação?
Felipe - Nós mexemos com um lado carente da pessoa, procuramos a parte podre do relacionamento, além de entrar na intimidade do casal. Por isso é fácil a confusão, mas já sabemos sentir essas coisas antes mesmo de acontecerem.
Eloy - E o segredo é cortar a coisa antes de ela acontecer.
Felipe - Senão, além de um problema de imagem, temos um problema financeiro, porque, com envolvimento, não há pagamento.
Revista - E vendo tanta traição, vocês não ficam desconfiados de suas próprias mulheres?
Eloy - Quando você está de bem com a vida, não tem por que criar esse tipo de dúvida. Normalmente, só quem trai desconfia que está sendo traído.
Felipe - Acho que as nossas mulheres, já conhecendo as nossas condições profissionais, acabam nos respeitando, porque sabem que a gente pode descobrir com muita facilidade.
João - Eu acho que, quando acontecer alguma coisa, eu vou saber de cara e chamar ela para conversar. Porque mulher quando trai é porque aquele homem não serve mais para ela, e ela começa a tratá-lo diferente. Não é como homem, que trai de sem-vergonha e continua tratando a mulher do mesmo jeito em casa. Só um homem muito ingênuo não consegue perceber quando a mulher o engana.

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