São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 1997
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Missão do FMI chega e nega negociação

FERNANDO GODINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A economista italiana Teresa Terminassian, chefe da equipe do Fundo Monetário Internacional que está no Brasil, disse ontem à Folha que o país não está negociando qualquer programa de ajuda financeira com a entidade.
"Não há qualquer hipótese de negociação entre o Brasil e o FMI para um programa de ajuda financeira", disse ela, que também é sub-diretora do Departamento de Hemisfério Ocidental do FMI. "Eu saberia sobre qualquer negociação que estivesse sendo feita."
Terminassian considerou as medidas de controle fiscal anunciadas pelo governo na semana passada "significativas, muito importantes e com consequências para a economia brasileira". O governo quer obter um ganho fiscal de R$ 20 bilhões com as medidas.
Ela e outros três técnicos ficarão em Brasília por três dias, atualizando dados sobre a situação econômica do país a partir do pacote lançado pela equipe econômica. Eles chegaram ontem a Brasília, procedentes da Argentina.
Essa mesma missão esteve no Brasil no mês passado coletando informações sobre os indicadores econômicos e embarcou para a Argentina dois dias após a primeira queda na Bolsa de Valores de Hong Kong -que deu início ao atual crash global.
Os dados coletados no Brasil serão usados na preparação de um relatório sobre o país, cuja divulgação pública não está prevista. Esse documento é feito anualmente em todos os países que são integrantes do fundo e está previsto no seu regimento interno.
"Essa visita é absolutamente normal. É necessário atualizar os dados sobre o Brasil por causa das medidas anunciadas", afirmou.
Na Argentina, ela e sua equipe acertaram os últimos detalhes do pacote de ajuda financeira do FMI a esse país, estimado entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões.
Questionada sobre as diferentes necessidades econômicas entre Brasil e Argentina, a economista respondeu: "A Argentina quer (ajuda financeira do FMI), e o Brasil não quer. Essa é uma escolha de cada país, que considera suas necessidades de financiamento".
Teresa Terminassian arrisca sugerir que o Brasil poderia requisitar um assessoramento técnico do FMI para conduzir seu programa de ajuste fiscal.
"Podemos ajudar o Brasil com assessoria técnica, assim como qualquer outro país do fundo. Temos recursos humanos para isso", afirma a economista, completando que não recebeu qualquer pedido do governo nesse sentido.
Nos próximos três dias, a missão do FMI se encontrará com o ministro Pedro Malan (Fazenda), com o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, e com técnicos do Planejamento.
O FMI foi recentemente criticado por Malan, que atribuiu a crise das Bolsas de Valores à lentidão do socorro internacional aos países do Sudeste Asiático.
"Ao contrário do que ocorreu no México, a crise asiática agravou-se com a demora na adoção de remédios eficazes. O pacote de ajuda do FMI à Tailândia ainda não está totalmente definido. O pacote do FMI com a Indonésia, cuja negociação teve início em julho, só foi anunciado na última semana de outubro."

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