São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 1997
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Palmeiras não arranca um riso de satisfação

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Esse Palmeiras, que venceu o Inter, ontem, em casa, por 1 a 0 e com as calças nas mãos, pode vir a ser coroado campeão das galáxias. Mas não haverá de arrancar um sorriso de satisfação do mais fanático palestrino. Sobretudo, o palestrino que se acostumou a ver um time inventivo, agressivo e brilhante nos últimos tempos.
Basta dizer que terminou o jogo -contra um time esforçado e bem armado, nada mais- com dois zagueiros, três laterais, quatro cabeças-de-área e apenas um atacante, Viola, artilheiro do jogo. Aliás, o único a, pelo menos, tentar o gol.
É pouco, muito pouco. Mas, para esta fase, pelo nível dos adversários, quem sabe...
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Foi uma noite de galo, porque não feérica e elegante como as noites de gala, mas sim arrebatada e fatal como o símbolo do Atlético-MG, que meteu 2 a 0 no Santos, sábado, em pleno Mineirão, mesmo jogando com um jogador a menos desde o primeiro tempo.
E com um detalhe: o Santos até que se portou com certa dignidade, embora sem contundência. Até, digamos, os 15 minutos do segundo tempo, dominou o meio-campo, tocou a bola, criou expectativas, mas nunca chegou à cara de Taffarel, a não ser quando o goleiro soltou uma bola aos pés de Arinelson, que se embaralhou.
Já o Atlético, firme na marcação, bem ao estilo do técnico Leão, sempre foi fogoso no contragolpe, graças à sutil combinação de leveza, velocidade e agudeza da dupla Valdir-Marques.
E com esse redivivo Jorginho pingando sabedoria e habilidade no meio-campo, o Galo saiu do Mineirão com a crista erguida. Baixá-la, pelo visto, será tarefa impossível para esse Santos que está sempre a um passo de ser.
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A jogada de Edmundo, que resultou no pênalti que ele mesmo converteu no terceiro gol vascaíno contra o Juventude, lá em Caxias, remeteu-me a um ensinamento do mítico Leônidas da Silva, o Diamante Negro, o Homem-de-Borracha: a grande área é a maior proteção do atacante; aquele que recebe a bola dentro da área e dela foge é uma besta.
Pois Edmundo seguiu à risca a lição -recebeu a criança na área, gingou pra cá, pra lá, ameaçou evadir-se, mas, próximo da risca, deu meia-volta, investiu e sofreu o pênalti.
Uma jogada que Leônidas, hoje vivendo nas sombras da desmemória de uma clínica em São Paulo, se visse, aplaudiria de pé.
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Ufa! Pelo buraco da agulha, afinal, a Itália chegou à França, ao vencer anteontem a Rússia, por 1 a 0. Mas nesse jogo, como de resto em praticamente todo o futebol que se joga na Itália hoje em dia, o que se evidencia é a ausência de criatividade no meio-campo.
Não há um único e solitário "regista", como gosta de cunhar sir Lancellotti, aquele regente, maestro, organizador de jogo, enfim. Quem melhor executa essa tarefa no futebol italiano desta temporada é um francês, Zinedine Zidane, o que justifica a fase gloriosa de sua Vecchia Signora.

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