São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 1997
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Serrault interpreta ladrão

SAMUEL BLUMENFELD
DO "LE MONDE"

Leia entrevista com Michel Serrault, o personagem Victor de "Rien Ne Va Plus", último filme do cineasta Claude Chabrol.
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Pergunta - Você faz um ladrão que articula golpes cuidadosamente. É uma metáfora do ator?
Michel Serrault - Todo mundo é ator e todos temos momentos onde somos nós mesmos. O personagem confunde a mentira com a verdade. Ele conclui que, já que todo mundo engana e é enganado, precisa tomar parte nessa história.
Pergunta - Como ator você também se depara com o dilema de não distinguir real do imaginário?
Serrault - Já me aconteceu de fazer coincidir a atuação com o que eu era no momento. Como no filme de Claude Sautet "Nelly et Monsieur Arnaud", onde trabalhei com Emmanuelle Béart. O ator que quer governar ou manipular tudo não é um imbecil, mas a gente não precisa saber de antemão como tudo vai acontecer.
Pergunta - É seu segundo filme com Chabrol, 15 anos após "Les Fantômes du Chapelier". Por que trabalhar novamente com ele?
Serrault - Esse é um dos meus melhores filmes. Me fez chorar. Chabrol e eu rimos das mesmas coisas, não requer explicação.
Pergunta - Atuar em filme ruim é tão interessante como em um bom?
Serrault - Totalmente. Existem filmes medianos onde há cenas que eu amo. Em "Carambolages", de Marcel Bluwal, de 1963, fiz um de meus papéis preferidos. Fico assustado quando vejo um jovem ator recusar papéis. Deve-se fazer tudo até estar em posição de escolher. Nunca fiz audições na vida, minhas audições são a tela. Se há dez imbecis ao seu lado, isso não te impede de atuar bem.

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