São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Exemplo que não se cita

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - No fim-de-semana, embora não tivesse gosto, tive tempo para ler volumoso release das notas mais importantes publicadas e comentadas na imprensa e na TV. Havia um gráfico e não me surpreendi ao ler o resumo do resumo.
O grande tema começava e terminava com uma pergunta: a confiança dos investidores estrangeiros no Brasil ficou abalada? Governantes, posição e oposição, prelados, funkeiros, banqueiros, donas de casa, na realidade, todos opinaram. Dona Neuma da Mangueira, Dona Zica e Ronald Biggs talvez tenham dado palpites sobre o assunto, mas estranhamente não mereceram registro.
Fica difícil aceitar essa humilhação e, muito menos, essa burrice. Evidente que precisamos de investimentos, mas não ao ponto de transformá-los no mais importante objetivo nacional. E para falar a verdade, essa preocupação em manter as Bolsas de Valores animadas, parece que é a única, infelizmente única finalidade do governo.
Gosto de citar o exemplo que ninguém cita: em 1933, quando Hindemburg, depois de muita relutância, convocou Hitler para formar um novo gabinete, a confiança dos investidores estrangeiros na Alemanha devastada pelo Tratado de Versalhes e bichada pelo desemprego era zero. Apesar de ter ganho a eleição, ninguém confiava em Hitler. (Havia razões de sobra para isso).
Mesmo assim, em apenas três anos, ele conseguiu fazer da Alemanha a maior potência mundial. Mais três anos e a Alemanha estava tão forte que embarcou na demência de deflagrar uma guerra que, afinal, a reduziria a ruínas.
Com a prioridade no combate ao desemprego, a Alemanha ressurgiu. O fato de ter terminado na tragédia, no crime e no horror é outra história. Curiosamente, quando a economia de guerra começou a crescer e, crescendo, inspirou "confiança", muitos investidores voltaram a apostar no cassino nazista que desaguou na barbárie e nos fornos crematórios.

Texto Anterior: Mais uma para a classe média
Próximo Texto: Em meio à adversidade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.