São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Crise e risco agrário depreciam as terras

BRUNO BLECHER
DA REDAÇÃO

O risco agrário e o endividamento dos produtores passaram a ser, nos últimos meses, as principais causas da desvalorização das terras agrícolas no Brasil, na avaliação de economistas rurais e corretores do mercado.
"A ameaça de invasão prejudica o investimento na agricultura e leva o produtor a abandonar sua atividade e vender a terra", diz o economista Fernando Homem de Melo, da USP.
Também o endividamento dos agricultores, segundo ele, tem colaborado para a queda dos preços das terras.
"O processo de securitização não alcançou todos os produtores. Tem muita gente vendendo terra para saldar dívidas."
Atílio Benedini, corretor de terras em Ribeirão Preto (SP), concorda com Homem de Melo.
"Em áreas de conflito, como o Pontal do Paranapanema, em São Paulo, os preços despencaram", diz Benedini.
Na opinião do corretor, porém, a desvalorização não ocorre em todas as regiões do país.
"No sudoeste de Goiás, por exemplo, a mecanização do algodão está recuperando os preços das terras de lavoura. Tivemos negócios lá e os preços estão voltando aos patamares do início do Plano Real", diz Benedini.
Segundo ele, houve uma mudança de mentalidade do produtor rural nos últimos anos.
"Hoje, o fazendeiro não está mais preocupado com o tamanho da propriedade, mas com a produtividade, e procura investir mais em tecnologia, como adubação de terras, plantio direto e compra de maquinário, do que na aquisição de terras."
Qualidade
Com o fim da especulação, as terras também passaram a ser valorizadas por suas características produtivas, como a qualidade do solo, o clima da região e as condições de infra-estrutura.
"Compra terra hoje quem precisa e quer produzir", diz Benedini.
Segundo ele, existe um grande estoque de propriedades à venda no Brasil, mas é difícil achar terra de boa qualidade.
"Dias atrás ofereci R$ 1,2 milhão por uma fazenda de cana de 80 alqueires no interior de São Paulo, mas o dono não quis vender", acrescenta Benedini.
Em São Paulo, na avaliação do corretor, as terras mais valorizadas estão em Leme, Araras, Dumont e Ribeirão Preto.
"Nessas regiões não existem problemas com os sem-terra e nem com documentação."
Outros Estados com boa demanda, segundo ele, são Mato Grosso e Goiás. Em Mato Grosso, o sucesso da soja valorizou as terras em Primavera do Leste e Sorriso.
(BB)

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