São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Entidades ameaçam lutar por isenções

MARCOS PIVETTA
MARTA AVANCINI

MARCOS PIVETTA; MARTA AVANCINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Filantrópicas de saúde e educação querem evitar fim de imunidades fiscais em vigor, previsto em MP do governo

As entidades filantrópicas da área da saúde e educação ameaçam promover uma guerra jurídica contra a Medida Provisória do governo federal que altera o sistema de isenções e imunidades fiscais hoje em vigor.
A medida, adotada pelo governo para garantir a estabilidade da economia e reduzir o déficit fiscal, foi publicada ontem no "Diário Oficial da União".
O problema reside no alcance da chamada alteração (não se sabe exatamente quem vai perder isenções e imunidades).
Especialistas em direito tributário e dirigentes de entidades que reúnem instituições filantrópicas ouvidos pela Folha consideraram o texto da medida inconstitucional.
O argumento básico é que não se pode alterar um direito estabelecido pela Constituição por meio de uma Medida Provisória, mas apenas por meio de uma emenda constitucional.
A imunidade das entidades filantrópicas ao pagamento de impostos e tributos está prevista no artigo 150 da Constituição Federal.
Para o advogado tributarista Ives Gandra Martins, há pelos menos três pontos inconstitucionais na medida baixada pelo governo.
Com a medida, o governo cria novos requisitos para conferir imunidade às entidades, suspende esse benefício de outras instituições e quer cobrar Imposto de Renda de quem faz aplicações em renda fixa ou variável.
"A Receita (Federal) sabe que a Medida Provisória é inconstitucional. Eles não são burros. Eles (o governo) fizeram a medida acreditando que pouca gente vai discuti-la na Justiça", disse Gandra.
A Anamec (Associação Nacional das Mantenedoras de Entidades Católicas) já convocou uma equipe de advogados para avaliar como melhor se defender na Justiça.
"O governo está tentando mudar a definição do que é uma organização filantrópica, mas isso não é possível. Vai ser uma guerra de pareceres", disse Eurico de Andrade Neves Borba, secretário-executivo da Anamec.
Ele lamenta que a tentativa de mudança ocorra justamente no final do ano, quando as planilhas de custo já estão definidas. "Vai ser um desgaste inútil porque vamos acabar ganhando", disse.
"A medida é inconstitucional. Vamos decidir dia 26 como vamos combatê-la", disse o advogado José Alberto Monteclaro Cesar, presidente da entidade que representa as Santas Casas e hospitais filantrópicos do Estado de São Paulo.
O governo entende que a medida provisória é constitucional. O Ministério da Educação e do Desporto foi procurado para comentar os efeitos da medida, mas não respondeu até as 20h de ontem.

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