São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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'Proer' japonês inverte o crash global

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O banco comercial Hokkaido Takushoku, um dos dez maiores do Japão, anunciou ontem sua falência devido a créditos vencidos que não consegue recuperar desde o final dos anos 80.
O mercado de ações de Tóquio festejou com uma alta de quase 8%. É a quarta maior alta já registrada na história da Bolsa.
Afinal, há anos se comenta que os japoneses escondem o enorme rombo de suas instituições financeiras embaixo do tapete. O reconhecimento não só da existência dos prejuízos mas da necessidade de socializar as perdas é um primeiro passo rumo ao saneamento do sistema bancário japonês. Espera-se que a partir de agora os desequilíbrios de outras instituições sejam reconhecidos.
O Hokkaido Takushoku é o maior banco privado japonês a quebrar desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Segundo estimativa do Ministério das Finanças do Japão, os bancos do país acumulam 28 trilhões de ienes (cerca de US$ 224 bilhões) em créditos podres. Ao menos 15 bancos e empresas de crédito japonesas já faliram desde 1995.
O ministro das Finanças, Hiroshi Mitsuzuka, afirmou ontem que o Banco do Japão (banco central) destinará recursos suficientes para garantir a devolução do dinheiro aos clientes do banco.
Ele disse ainda que estudará a possibilidade de tapar com recursos públicos os créditos podres do banco para "evitar que sua insolvência ponha em perigo o sistema financeiro japonês". Mitsuzuka disse ainda que o governo poderia ajudar outras instituições financeiras privadas em dificuldades. Ele afirmou que o Partido Liberal Democrático (PLD, do governo) tomará a decisão depois de um "debate público".
O ministro anunciou que o banco continuará a operar normalmente até que outro banco privado assuma suas operações.
Créditos
A diretoria do banco até agora não divulgou o valor total dos créditos podres já vencidos.
Analistas do mercado financeiro avaliam, no entanto, que o rombo está em cerca de 935 bilhões de ienes, ou US$ 7,5 bilhões.
Os empréstimos foram cedidos sem garantias durante a época da especulação financeira e imobiliária do final dos anos 80 e que se prolongou no começo dos 90.
O banco possui 5.900 empregados e 204 sucursais em todo o país, além de outras 15 no exterior.
O Hokkaido Takushoku negociava, até o final da semana, a fusão com o banco North Pacific, instituição financeira da ilha de Hokkaido (norte do país).
Megafundo
O anúncio da quebra do Hokkaido Tokushoku teve repercussão positiva na Bolsa de Valores de Tóquio. O mercado interpretou que a falência do banco, ao invés de ameaçar o país com uma crise financeira, dava esperanças de que o governo injetaria recursos públicos para solucionar os problemas do setor financeiro.
A Bolsa de Valores de Tóquio (Japão) conseguiu ontem uma surpreendente recuperação de 1.200 pontos e fechou com 16.283,32 pontos.
O índice Nikkei, que reúne as 225 ações mais importantes, registrou alta de 7,96%. Foi a mais representativa alta em um só dia desde o final de janeiro de 1994.
Analistas avaliam que o Nikkei continuará subindo esta semana, quando o governo deve anunciar novas medidas para reativar a economia do país. Ontem, as ações de bancos japoneses subiram moderadamente.
Os rumores no final da semana passada em Nova York, segundo o "Nihon Keizai Shimbun" (o maior jornal econômico do Japão), apontavam para a criação de um fundo de 8 trilhões de ienes (cerca de US$ 64 bilhões) para ajudar os bancos com dívidas problemáticas.
A possibilidade foi reforçada por comentários do secretário do Tesouro dos EUA, Lawrence Summers, apoiando medidas de estímulo fiscal e a utilização de recursos públicos para salvar os bancos japoneses. Essas declarações foram feitas depois de um encontro entre Summers e Mitsuzuka.
Esta é uma semana decisiva na Ásia. Hoje o governo japonês deverá anunciar mais um pacote fiscal com o objetivo de estimular a demanda doméstica. EUA e Japão anunciaram também a meta comum de evitar que o iene continue sendo desvalorizado em relação ao dólar. Amanhã reúnem-se as autoridades financeiras da região num encontro promovido pelo fórum da Asia-Pacific Economic Cooperation (Apec). Japão e China devem ainda pressionar o Fundo Monetário Internacional os EUA para que aceitem um pacote de ajuda à região mais flexível, estabelecido a partir de fundos levantados pela própria região.

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