São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Argentina perderá US$ 500 mi em turismo

LÉO GERCHMANN
DE BUENOS AIRES

Se há um setor empresarial argentino que definitivamente não aprovou o pacote fiscal brasileiro lançado na última semana, este é o do turismo.
Estimativas feitas pela CAT (Câmara Argentina de Turismo), às quais a Folha teve acesso com exclusividade, indicam o prejuízo iminente de pelo menos US$ 500 milhões no ano em plena entrada do verão, considerada a "alta temporada" brasileira.
A multiplicação da taxa de embarque, de US$ 18 para US$ 90, somada ao provável aumento do preço das bebidas e dos traslados terrestres -em função da nova alíquota a ser aplicada para os combustíveis- significa, de acordo com os cálculos dos empresários, um valor entre 20% e 30% superior ao que seria pago anteriormente.
É provável, segundo as estimativas da entidade, que o número de turistas argentinos diminua dos 2 milhões previstos antes do pacote para cerca de 1 milhão. Ou seja, 50% a menos.
As perdas calculadas pela entidade não incluem as que se referem ao turista brasileiro que vai à Argentina.
O percentual de turistas brasileiros esperados pelos argentinos era de 40% do total -cerca de 1,5% milhão de pessoas. O pacote deverá provocar um prejuízo alto, mas ainda não há estimativas disponíveis a esse respeito.
"A nova taxa de embarque brasileira na verdade é um imposto disfarçado de taxa, porque taxa pressupõe um serviço prestado, e não há nenhum serviço de embarque que justifique US$ 90. Nenhum país cobra isso", disse à Folha o presidente da CAT, Narciso Muniz.
Um fenômeno que deverá ocorrer é a volta do turista argentino aos locais que visitava nos anos 80, quando as opções eram as praias gaúchas, como as de Capão da Canoa, Tramandaí e Torres, para as quais é possível seguir em viagem de carro. A distância entre Buenos Aires e o litoral gaúcho fica, em média, entre 1.200 km e 1.300 km.
"A partir de agora, na hora de optar, o turista argentino vai preferir ir para Torres de carro do que seguir até Maceió de avião. Só o embarque, para uma família de quatro pessoas, significa um gasto de US$ 360", afirmou Muniz.
Imagem negativa
O maior prejudicado será o Brasil, segundo o empresário. Em primeiro lugar, porque "fica com uma imagem negativa" junto ao setor. Em segundo, "porque vai perder negócios e divisas importantes". Segundo ele, o Brasil perderá ainda negócios gerados por profissionais que procuram uma cidade para a realização de congressos ou simpósios.
"Quem vai querer levar centenas de pessoas para lugares onde cobram essa taxa de embarque? Na hora de optar entre o Rio de Janeiro e Punta del Este, não tenho dúvidas de que Punta será mais barato e, por isso, mais atraente."
O aumento de US$ 18 para US$ 90 se torna ainda mais pesado para os bolsos dos argentinos quando se conclui que o perfil do turista, durante o verão, é formado predominantemente por famílias que aproveitam as férias escolares. O aumento, portanto, deve ser multiplicado pelo número total de integrantes da família.
Por enquanto, não houve cancelamentos de viagens, mas espera-se que elas ocorram em dezembro e janeiro. O aumento nas taxas de embarque não precisará de aprovação legislativa para vigorar.
"O pior é que, por mais que eu pense, não consigo entender o motivo desse aumento. Não é isso que vai resolver os problemas da economia brasileira. São problemas desnecessários para nós. Ficou muito difícil", disse Muniz.

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