São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Para banqueiro, país manterá o câmbio

CLÁUDIA PIRES
DA ENVIADA ESPECIAL A MIAMI

A desvalorização do real não está nos planos do governo brasileiro, de acordo com a opinião de Henrique Meirelles, presidente mundial do Banco de Boston.
"O governo tinha a opção da desvalorização ou do pacote fiscal e optou pela segunda alternativa."
Meirelles abriu os debates de ontem do encontro de bancos latino-americanos em Miami, afirmando que a crise global deve trazer impactos positivos sobre o mercado latino-americano.
"O Brasil e os outros países latinos vão tirar importantes lições dessa crise. Eles vão se fortalecer economicamente. Não temos apenas que sobreviver à crise, mas também aprender com ela."
Para Meirelles, a primeira lição é que os países com melhores índices econômicos devem sair mais facilmente do problema. "Isso fará com que certas reformas parem de ser adiadas."
Entre os impactos positivos, Meirelles disse que os investidores vão achar os países latinos mais atraentes depois da crise.
Meirelles acredita também que o fluxo de investimentos deve voltar logo para a região.
Ásia
Na opinião do economista Rudiger Dornbusch, do MIT, outro participante do evento, Japão e Coréia são os dois países asiáticos em piores condições para enfrentar a crise financeira no Sudeste Asiático.
O principal problema do Japão, para ele, "é que seu sistema bancário está desmoronando".
Com déficit alto e taxas de juro muito baixas, o país não tem como segurar os investimentos estrangeiros. "O governo japonês tem se mostrado extremamente indeciso. Enquanto isso, a situação está se tornando mais grave."
Já para a Coréia, o principal problema seria a dívida externa alta. "O governo coreano está se recusando a observar as verdadeiras consequências. É difícil não prever que o país está caminhando para um crash total", disse Dornbusch.
Os outros países da Ásia estariam em situações mais confortáveis, na visão do economista.
Globalização
Para Meirelles, a crise que atingiu os mercados financeiros em todo o mundo é a principal prova do aumento da globalização.
Meirelles afirmou que é difícil dizer qual país está em posição mais difícil entre os latino-americanos, mas entende que o Brasil "tomou as medidas mais acertadas".
"A reação veio no tempo certo. É claro que, a princípio, os mercados continuaram extremamente voláteis, mas isso é normal. Com o tempo, o mercado tende a ficar mais estabilizado."
Para Meirelles, os bancos brasileiros também devem fazer algumas mudanças estruturais depois da crise. As instituições devem investir muito para criar produtos cada vez mais globais.
Ele não vê perigo imediato de quebra de instituições financeiras de médio porte no Brasil.
"Todos esses bancos estão acostumados a jogar alto. Quem joga alto pode perder muito em um dia, mas recupera no outro. Na verdade, o sistema bancário brasileiro é muito sólido."

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