São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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'Proer' japonês inverte o crash global

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Bolsa de Tóquio liderou ontem a virada na tendência de queda dos mercados acionários no mundo todo depois da divulgação de uma proposta do governo japonês que, se concretizada, poderá ajudar a salvar o sistema bancário do país.
A idéia, que ainda precisa ser aprovada pelos parlamentares, é usar fundos do governo para comprar ações de bancos em dificuldades, reforçando as reservas de capital das instituições.
Relatos vindos de Tóquio dão conta de que haveria disponibilidade de até US$ 64 bilhões nesses fundos, embora não se saiba se todo o dinheiro seria usado para ajudar o sistema bancário.
A iniciativa -que lembra o Proer, o programa que ajudou a contornar a crise bancária no Brasil- fez com que a Bolsa de Tóquio desse salto de quase 8%, interrompendo tendência de queda que se verificava com mais intensidade desde 23 de outubro, quando um colapso da Bolsa de Hong Kong deu início ao crash global.
Impacto positivo
A recuperação da Bolsa de Tóquio, que teve o quarto melhor desempenho de sua história, se deu num ambiente influenciado também pelo anúncio da falência do décimo maior banco comercial do país, o Hokkaido Takushoku.
Trata-se do maior banco privado japonês a quebrar desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Há anos se comenta que os japoneses escondem o enorme rombo de suas instituições financeiras embaixo do tapete.
O reconhecimento não só da existência dos prejuízos mas da necessidade de socializar as perdas é um primeiro passo rumo ao saneamento do sistema bancário japonês. Espera-se que a partir de agora os desequilíbrios de outras instituições sejam reconhecidos.
Segundo estimativa do Ministério das Finanças do Japão, os bancos do país acumulam 28 trilhões de ienes (cerca de US$ 224 bilhões) em créditos podres. Ao menos 15 bancos e empresas de crédito japonesas já faliram desde 1995.
O ministro das Finanças, Hiroshi Mitsuzuka, afirmou ontem que o Banco do Japão (banco central) destinará recursos suficientes para garantir a devolução do dinheiro aos clientes do banco.
Ele disse ainda que estudará a possibilidade de tapar com recursos públicos os créditos podres do banco para "evitar que sua insolvência ponha em perigo o sistema financeiro japonês".
Mitsuzuka disse ainda que o governo poderia ajudar outras instituições financeiras privadas em dificuldades. Ele afirmou que o Partido Liberal Democrático (PLD, do governo) tomará a decisão depois de um "debate público".
O ministro anunciou que o banco continuará a operar normalmente até que outro banco privado assuma suas operações.
Analistas avaliam que o rombo do banco era US$ 7,5 bilhões.
Os empréstimos foram cedidos sem garantias durante a época da especulação financeira e imobiliária dos final dos anos 80 e que se prolongou no começo dos 90.
Megafundo
O anúncio da quebra do Hokkaido Tokushoku teve repercussão positiva na Bolsa de Valores de Tóquio. O mercado interpretou que a falência do banco, em vez de ameaçar o país com uma crise financeira, dava esperanças de que o governo injetaria recursos públicos para solucionar os problemas do setor financeiro.
Analistas avaliam que o índice Nikkei da Bolsa de Tóquio continuará subindo esta semana, quando o governo deve anunciar novas medidas para reativar a economia do país.
A possibilidade de um pacote de ajuda aos bancos foi reforçada por comentários do secretário do Tesouro dos EUA, Lawrence Summers, apoiando medidas de estímulo fiscal e a utilização de recursos públicos para salvar os bancos japoneses. Essas declarações foram feitas depois de um encontro entre Summers e Mitsuzuka.
Esta é uma semana decisiva na Ásia. Hoje o governo japonês deverá anunciar mais um pacote fiscal com o objetivo de estimular a demanda doméstica. EUA e Japão anunciaram também a meta comum de evitar que o iene continue sendo desvalorizado.
Japão e China devem ainda pressionar o FMI e os EUA para que aceitem um pacote de ajuda à região mais flexível.
Coréia em queda
A alta da Bolsa de Tóquio só não influenciou a da Coréia, uma das poucas que fecharam em baixa. O dia em Seul, a capital, foi marcado por protestos de pessoas que tinham conta em instituições que foram fechadas nos últimos dias.

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