São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997 |
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Rudiger Dornbusch defende desvalorização de 15%
CLÁUDIA PIRES
Essa flexibilização do câmbio deveria ser de aproximadamente 15%, segundo o economista. Para ele, a posição do Brasil em retardar a decisão apenas adia o problema. "Não há como esperar até o ano que vem. Se a decisão não for tomada agora, uma crise ainda mais profunda virá no próximo ano." Dornbusch falou sobre a crise mundial que afeta os mercados financeiros ontem, em palestra na 31ª Assembléia Anual da Federação Latino-americana de Bancos. Os problemas enfrentados pelo Brasil foram um dos destaques. Depois da exposição, o economista conversou com os jornalistas. Na sua opinião, o pacote fiscal adotado pelo governo foi correto. "O Brasil está implementando um bom pacote, mas é preciso ter em mente que tudo é como em um jogo de apostas." O economista evitou usar o termo "desvalorização". Segundo ele, essa palavra é tida como uma espécie de tabu nos mercados latinos. Dornbusch afirma ainda que a recessão é uma consequência inevitável do processo. "Não dá para fugir da recessão com taxas de juros fixadas em quase 4%." Dornbusch também concorda que a flexibilização do real poderá trazer de volta a inflação, mas evitou fazer previsões. "Não há como saber, não tenho números mágicos. Na verdade, a recessão é um problema mais sério para a economia brasileira do que a inflação." Buscar ajuda junto ao FMI será um recurso evitado ao máximo pelo Brasil, de acordo com Dornbusch. "Acho que o Brasil não gosta da idéia de correr ao FMI. O governo não vai querer um fiscal no país em ano de eleição." Para ele, porém, o recurso pode vir a ser utilizado caso a situação fique mais tensa nas próximas semanas. "O FMI vai querer uma flexibilização de 20% e o Brasil vai pedir 10%. Devem acabar fechando em 15%", disse o economista durante sua exposição. Dornbusch fez questão de dizer, porém, que, apesar de todos os problemas, ainda tem uma visão otimista em relação ao Brasil. "É preciso notar que o sistema financeiro brasileiro é forte e que os investidores gostam do Brasil. Se tudo for feito da forma correta, a estabilidade deve voltar. É um erro, porém, pensar que a crise será resolvida em dois meses." Para trazer de volta a estabilidade, o governo também não pode deixar de lado as reformas e o processo de privatização. Segundo Felipe Larrain, de Harvard, outros países latinos como Chile, México e Argentina têm posições mais confortáveis para enfrentar a crise global. "O Brasil é o país que tem o crescimento menor e os déficits mais altos", diz. Dornbusch concorda: "O Brasil é o país que tem o desafio maior". LEIA MAIS sobre política cambial na pág. 2-6 Texto Anterior: 'Proer' japonês inverte o crash global Próximo Texto: Fatia menor; Disputa local; Jogando com o juro; Fôlego curto; Questão de preço; Prato feito; Procurando o eixo; Com a língua de fora; Fugindo do risco; Efeito caipirinha; Ressaca na fronteira; De pilha nova; Ainda na UTI; Olho do furacão Índice |
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