São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Extremismo tenta desestabilizar o país

IRINEU MACHADO
DE LONDRES

Os extremistas muçulmanos do Egito não vão parar de atacar turistas, mesmo diante de análises de que não chegarão a lugar nenhum com o terrorismo. Não há perspectivas para o fim dos atentados, e a ação terrorista é a cada dia mais imprevisível na região.
"Os turistas se tornaram o alvo predileto dos grupos extremistas porque atentados contra eles afetam diretamente a economia do país e, em consequência, o governo. Eles não vão parar de atacar turistas."
A opinião é do professor Robert Mabro, 63, especialista em Egito do Centro de Estudos do Oriente Médio do Saint Anthony's College, da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Os fundamentalistas muçulmanos lutam pela restauração das bases islâmicas da sociedade local.
Desde que o presidente Anuar Sadat foi assassinado por extremistas, em outubro de 1981, Hosni Mubarak, seu sucessor, vem mantendo a mesma política laica e atraindo oposição desses grupos.
Durante a década de 80, os militantes extremistas aumentaram os ataques a turistas. Mubarak os reprimiu e mais de 1.100 pessoas já morreram nos confrontos. Só nos últimos cinco anos, outros 34 turistas estrangeiros foram mortos em ataques dos fundamentalistas.
O impacto de um ato como o de ontem na economia do país, que vive basicamente de turismo, é tudo o que os grupos extremistas buscam para atingir o governo e criar uma imagem de enfraquecimento, segundo Mabro.
"Claramente, a escalada terrorista está aumentando no Egito, e eu não vejo como freá-la. Os extremistas sabem que atacando turistas afetam negativamente o governo. Uma coisa é certa: eles não têm chance de derrubar o governo, embora consigam por momentos desestabilizá-lo", disse Mabro.
"Atingindo a economia do país, eles criam uma aparência de que o governo é incompetente. Caindo a arrecadação do turismo, o governo parece ficar mais fraco."
Mabro disse ainda que "terroristas fazem atos de terror para assustar as pessoas". "Mas a história mostra que não se chega ao poder com atos terroristas como este. Eles não chegarão ao poder assim."
Para Mabro, o comportamento dos terroristas depois de um grave atentado como o de ontem em Luxor é imprevisível.
"Não há como prever se a ação dos terroristas tende a aumentar ou diminuir. Às vezes, eles param; de repente, voltam. Seus atos são muito irregulares. Depende de uma série de fatores, como as condições do local do atentado, a presença de segurança, quem são os alvos."
Por esses motivos, segundo Mabro, também é muito difícil de se impedir a continuidade da ação dos extremistas. "Há anos sem nenhum atentado e, quando tudo parece calmo, podem acontecer dois em uma semana", afirmou.
"Eles (os terroristas) já perceberam que conseguem alguns resultados com esses atentados. Causam muitos danos econômicos. Por isso, procuram matar estrangeiros, não muçulmanos, não gente do próprio povo. Na verdade, eles não ligam para quem são ou de onde são as vítimas. Eles querem atingir turistas."

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