São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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Quanto pior, melhor

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Do líder do PSDB na Câmara, Aécio Neves, em 6 de novembro: "A crise é muito pior do que estávamos imaginando".
Do líder do governo no Congresso, senador José Roberto Arruda, no dia 12: "O barco está fazendo água".
Do governador do Ceará, Tasso Jereissati, no dia 13: "O Brasil está vulnerável. Existe uma ação especulativa muito forte".
Aécio, Arruda e Jereissati têm algo em comum: são do PSDB e têm acesso direto ao gabinete presidencial.
Não são da oposição, não costumam ser irresponsáveis, não têm interesse em incendiar o país com versões catastróficas nem ficaram malucos de uma hora para outra. Logo, o rasgo de sinceridade deve ter lá seus motivos.
Uma possibilidade é a crise ser tão grave que nem os tucanos mais fiéis ao Planalto podem disfarçá-la.
Outra é eles terem afinado o discurso com o Palácio do Planalto perseguindo dois objetivos: justificar a dureza das medidas na área fiscal (o tal pacote 51), e convencer parlamentares relutantes a aprovarem as reformas. A administrativa começa a ser votada amanhã pelos deputados, em plenário. A da Previdência Social voltou do Senado e está na CCJ da Câmara.
Em qualquer hipótese, o governo vai ter de correr mesmo se quiser usar o empurrãozinho da crash global para aprovar de vez reformas que estão paradas há mais de dois anos no Congresso. É que a crise das Bolsas pode estar começando a ceder.
Enquanto o mundo inteiro respirava aliviado ontem com o Proer do Japão e a alta das Bolsas em Tóquio, Nova York, São Paulo e Rio, no Congresso havia uma certa apreensão com o relaxamento da crise antes da hora. Os economistas ganharam uma trégua, mas os políticos governistas podem perder seu mais poderoso argumento.
Em resumo, a situação desta semana é curiosa: quanto mais instável o cenário econômico, maior a chance das reformas no Congresso. Só falta torcer para a paz que vem da Ásia demorar um pouco mais a chegar.
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ACM e governo querem uma só comissão mista para as MPs do pacote. Menos debate, votação mais rápida.

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