São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 1997
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De cães e de rosas

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Tanto no Rio como em São Paulo ocorreram dois casos graves envolvendo cães e, naturalmente, entra em discussão a conveniência (ou a legalidade) de termos ao nosso lado esses animais que, no meu entender, são bem melhores do que o homem.
No Rio, pretende-se proibir a criação de pelo menos duas raças, o Pit Bull e o Fila, sendo que a primeira já é proibida em alguns países que aceitam cães como cidadãos comuns. É o caso da Inglaterra e de alguns condados dos Estados Unidos.
Em parte, há razões para a proibição. Criadores realizam experiências homicidas com certas raças, como a do Fila, para produzirem armas de agressividade. E vendem o produto a pessoas desclassificadas que saem às ruas exibindo a ferocidade de animais que deveriam permanecer nas propriedades a serem protegidas.
Na Idade Média, quando era comum o envenenamento para manter a sucessão em dinastias ou em heranças, ficou banal envenenar comida ou bebida. Os mais sofisticados envenenavam rosas, rosas tão vermelhas que pareciam pretas. Cheiradas, ou encostadas à face, produziam efeito mortal. Apesar disso, não se pensou em proibir o cultivo de rosas.
Vivendo em sociedade, sou obrigado a aceitar a convivência com gente que detesta cães e, pior, com gente que gosta errado de cães. É uma pena. Posso garantir, por experiência própria, que a vida, tão avara em me dar alegria e ternura, compensou as traulitadas que levei por aí com duas maravilhas de amor: minhas setters Mila e Títi.
Como guardas, eram uma lástima. Se entrasse um ladrão em minha casa, elas o receberiam com o mesmo carinho, a mesma alegria com que recebiam meus amigos. Num desses sábados, ouvi Maria Callas, di Stefano, Tito Cobbi, regência de Tullio Serafin, numa das óperas que Mila adorava. Juro que a senti, a meu lado, com seu corpo dourado e quente, vivo como a saudade.

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