São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Um outro pacote

JANIO DE FREITAS

O tão citado efeito negativo do pacote sobre a candidatura de Fernando Henrique Cardoso reflete a lógica do momento, mas, por ora, não creio que autorize previsões, tão incerto é o resultado das medidas econômicas e tantas são as armas de propaganda do governo. Um efeito paralelo àquele, porém, aparenta ter feito um aprofundamento fulminante, como uma cunha expansiva, na disputa pela Presidência. E tem nome: Antonio Carlos Magalhães.
Essa novidade tem até um percurso interessante, que começa quando os Magalhães, pai e filho, encontram-se como integrantes do Congresso. Antonio Carlos chegava com o fogo brando de quem ia iniciar a sua reta final, se não pela idade, pela falta de mais horizontes sedutores. Luís Eduardo subia à presidência da Câmara envolto como revelação pefelista de político competente e pessoa confiável. E por isso visto, com simpatias até fora do PFL, como forte candidato à sucessão de Fernando Henrique.
A presidência da Câmara transformou-a em anexo de serviços do Planalto e do Alvorada. Os truques mais deploráveis foram aplicados para impedir CPIs necessárias ao país, mas inconvenientes para Fernando Henrique, obcecado em evitar qualquer possível retardamento no percurso maroto da reeleição. As manobras mais rastaqueras foram aplicadas para impedir que os arremedos de reformas, mandados pelo governo, fossem tornados mais coerentes com os interesses sociais e do país. Expirado o seu mandato, Luís Eduardo levou a glória discutível de haver feito tudo o que Fernando Henrique quis. No que consumiu, dentro e fora da Câmara, todo o seu prestígio.
A intervenção no Banco Econômico reacendeu Antonio Carlos. Sua marcha à frente da coluna rebelde baiano-parlamentar, rumo ao Planalto, foi um fracasso no primeiro momento, por dispor de infantaria, mas não de artilharia, que o governo tinha imensa. A partir dali, porém, Antonio Carlos inflou sem interrupção. Elevou-se à condição de líder absoluto do PFL, e não mais de apenas uma banda partidária. Elegeu-se presidente do Senado, o que quer dizer presidente do Congresso. E, entre uma ascensão e outra, tornou-se a voz política que ecoa com mais força no Planalto.
Desmaio das Bolsas, o governo aparvalhado, Fernando Henrique em fim-de-semana de lazer no Rio? Antonio Carlos trovejou e, fato único, na segunda-feira de manhã Fernando Henrique e Pedro Malan estavam reunidos com ele no Planalto, instados a despertar com providências urgentes. Pacote preparado em sigilo, mordendo todo mundo por todos os lados? Antonio Carlos decretou: "No Congresso não passa esse aumento de imposto". Nem os mais serviçais fernandistas ousariam dizer, hoje, que o novo imposto tem alguma chance. Se fazem alguma especulação, é sobre o crescimento de Antonio Carlos na opinião pública.
Um ingrediente a mais: o PFL está ciente de que o projeto do segundo mandato de Fernando Henrique inclui uma ofensiva pesada para enfraquecer o PFL, evaporando a retribuição de apoiar um pefelista, Luís Eduardo era o previsto, para presidente em 2002.
Mais um: assim como o Datafolha verificou e divulgou, o comando do PFL tem elementos para comprovar que, mesmo antes da crise, a maioria do eleitorado deseja um candidato que não seja Fernando Henrique nem algum dos citados habituais. E Antonio Carlos preenche muitas das condições necessárias, tido, inclusive, como o mais habilitado a obter grande apoio popular e confiança dos setores que dominam condutos influentes no processo de sucessão presidencial.
Além do pacote econômico, está aí um pacote eleitoral. De futuro ainda tão incerto quanto o primeiro.

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