São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997 |
Próximo Texto |
Índice
Venda de água vira bom negócio na PB
ADELSON BARBOSA
Na maioria dos 70 municípios, o abastecimento está sendo feito por carros-pipa contratados pelas prefeituras, que distribuem água racionada de má qualidade e sem tratamento para a população. Em Soledade (180 km de João Pessoa), cada família só pode levar quatro latas de água para casa por dia. As filas começam às 3h e atingem mais de 500 metros. Vender água no interior da Paraíba virou um bom negócio. Em Soledade e Juazeirinho (180 km de João Pessoa), os carros-pipa particulares vendem por até R$ 1,00 a lata de 20 litros de água de boa qualidade, levada de Natal (RN). A água -suja, amarelada e salobra- é vendida por preços que variam de R$ 0,20 a R$ 0,50 a lata em Soledade, Juazeirinho e Monteiro. Em Soledade e Juazeirinho, cerca de 25 donos de caminhões-pipa vendem água e disputam a clientela oferecendo promoções e fazendo propaganda da água. O mecânico Olavo Bilac Melo Guimarães, 44, vende água há quatro anos em Soledade. Ele compra água em fontes do município de Pocinhos, a 40 quilômetros, abastece uma cisterna em casa e revende a R$ 0,30 a lata de 20 litros. "Só vendo água de boa qualidade. Tem gente que vende mais barato, mas é uma água salgada, que não presta. O meu produto vale a pena, mas a movimentação está pouca, porque aumentou a concorrência", disse Guimarães, que vende, em média, três caminhões de água por semana em Soledade. Em Juazeirinho, Lúcia de Fátima Justino vende água em casa. A lata custa R$ 0,10. "Mas o preço vai aumentar, porque os combustíveis aumentaram e o dono do poço onde eu compro água já disse que um carro com 7.000 litros vai subir de R$ 20,00 para R$ 25,00", disse. Ela ganha R$ 10,00 a cada 7.000 litros vendidos. Na comunidade Cafundó, na zona rural de Maturéia (350 km a oeste de João Pessoa), 19 famílias não têm outra alternativa e estão bebendo a lama que resta em um açude. As crianças apresentam doenças de pele e diarréia por causa da água suja (leia texto abaixo). Em Monteiro, município com 24 mil habitantes, o prefeito Carlos Batinga (PFL) decretou estado de calamidade pública na semana passada. Os três açudes que abasteciam a população secaram completamente. Os peixes morreram e o mau cheiro tomou conta da cidade nos últimos dias. O governo do Estado e a prefeitura iniciaram a construção de uma adutora de 8,5 km que trará água do açude Poções para abastecer Monteiro daqui a quatro meses. O açude, com capacidade para 30 milhões de m3, tem agora 1 milhão de m3 -quantidade que abastece a cidade por seis meses. Próximo Texto: Famílias têm de beber lama Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |