São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Pesquisa mostra 205% mais bebês com Aids

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O grupo de crianças com menos de 1 ano teve o maior crescimento proporcional em número de casos de Aids entre março de 1994 e março de 1997: 205%.
No mesmo período, a média brasileira foi de 125%, revela uma pesquisa da ONG (organização não-governamental) Instituto Promundo com dados do Ministério da Saúde, obtida com exclusividade pela Folha.
O grupo com a segunda maior taxa de crescimento foi a faixa etária entre 1 e 4 anos de idade (150%).
A pesquisa cruza os dados por faixa etária com os números de casos entre mulheres e mostra que o crescimento da Aids entre mulheres em idade fértil (de 15 a 49 anos) foi de 202%. Entre homens na mesma faixa etária (15 a 49 anos), o aumento do número de casos de Aids foi de 111%.
Para os pesquisadores, a semelhança dos números do crescimento da doença entre bebês (205%) e mulheres em idade fértil (202%) revela a força da transmissão perinatal (de mães grávidas para os filhos) do vírus.
A contaminação dos bebês filhos de mães com HIV acontece durante a gestação, parto ou amamentação. Se o vírus for detectado no início da gravidez, a mãe pode ser tratada, evitando a contaminação da criança. No entanto, muitas mulheres só descobrem que são soropositivas depois do parto.
A mesma pesquisa mostra que, entre crianças de até 12 anos com Aids, em 76% dos casos a contaminação aconteceu pela via perinatal.
Prevenção
O estudo, de autoria dos pesquisadores Miguel Fontes e Sérgio Santos, foi discutido em oficinas promovidas pelo Ministério da Saúde e será apresentado ao público amanhã, no 2º Congresso Brasileiro de Prevenção às DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e Aids, em Brasília.
"O estudo mostra que é preciso intensificar a prevenção nesse grupo. Muitas mulheres só descobrem que estão contaminadas depois do parto", afirma Fontes, 29, presidente do Instituto Promundo.
Na avaliação do pesquisador, as campanhas de prevenção à Aids continuam privilegiando os grupos antigamente chamados "de risco" -homossexuais, hemofílicos e usuários de drogas injetáveis-, mesmo que o perfil da doença tenha se alterado no país.
A Aids tem crescido especialmente entre mulheres e crianças brasileiras, como mostram os dados do Ministério da Saúde.
"Não há mais grupos de risco, o risco é de todos, mas as campanhas continuam esquecendo o grupo formado pelas mães."
O Instituto Promundo é uma organização de advocacia internacional com escritórios na Tailândia e nos Estados Unidos.

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