São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Sangue de 61% dos acidentados têm álcool

BETINA BERNARDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pesquisa inédita realizada entre acidentados no trânsito de quatro capitais no país mostra que 61% deles tinham tomado bebida alcoólica. Desses, 27% tinham no sangue quantidade de álcool superior a 0,6 grama por litro -o máximo permitido pelo novo Código Nacional de Trânsito.
O levantamento -"Impacto do Uso de Álcool e Outras Drogas em Vítimas de Acidentes de Trânsito"- foi realizado nas cidades de Brasília, Curitiba, Salvador e Recife de 26 de agosto a 3 de setembro deste ano, com 1.114 acidentados a partir dos 13 anos de idade.
Foi detectado, por intermédio de exames de sangue e urina, que 7,3% haviam usado maconha, 3,4% haviam consumido tranquilizantes, e 2,3%, cocaína.
"Os números são alarmantes. A sociedade não pode admitir esse tipo de comportamento, há até parlamentar defendendo o uso e essa banda apregoando a maconha", disse Antonio Carlos de Carvalho, presidente da Abdetran (Associação Brasileira dos Departamentos de Trânsito), entidade que encomendou o estudo.
O grupo musical a que Carvalho se referiu é o Planet Hemp (Planeta Maconha), cujos integrantes foram presos após apresentação em Brasília, sob acusação de fazer apologia da maconha. Eles saíram da prisão na semana passada.
A pesquisa foi feita nos dois principais hospitais de cada cidade e nos IMLs locais. Ela mostra que 77,4% dos acidentados em Brasília tinham álcool no sangue, recorde das quatro cidades. O consumo de bebida alcoólica nas quatro capitais foi maior entre as vítimas de trânsito de 20 a 39 anos: 65% delas haviam bebido antes do acidente.
Chama a atenção, no entanto, o grande número de adolescentes que ingeriram álcool: 52,8% dos acidentados com menos de 20 anos estavam alcoolizados, 16,5% dos quais com mais de 0,6 g/l. Essa quantidade equivale, por exemplo, à ingestão de dois copos de uísque ou três de cerveja.
Na faixa etária dos 13 aos 17 anos, 47,7% das vítimas tinham tomado bebida alcoólica e 10,3% acusavam presença de mais de 0,6 g/l.
"Nossos adolescentes estão bebendo e, ainda por cima, dirigindo. É uma dupla infração", disse o psiquiatra Evaldo Oliveira, do Instituto Raid de Pernambuco, que estuda a dependência química.
Legalmente, é proibido vender bebida alcoólica a menores de 18 anos. Segundo Oliveira, como o álcool, maconha e cocaína prejudicam o ato de dirigir, pois afetam a coordenação motora e os reflexos.
Isso explicaria a maior presença de acidentados com álcool no sangue entre as vítimas de choque (quando o veículo bate contra objeto fixo) e capotamento, 71,1% e 63,6%, respectivamente. Os resultados da pesquisa serão levados a governos municipais, estaduais e ao federal.

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