São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Carros baixam com moedas desvalorizadas

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O primeiro setor a sentir, no resto do mundo, o efeito das seguidas desvalorizações do won coreano e do iene japonês tende a ser a indústria automobilística.
Japão e Coréia são os dois únicos países com produção significativa de veículos fora do eixo Estados Unidos/Europa. Se suas moedas caem, na comparação com o dólar, fica mais fácil desovar a produção no exterior.
Para importar um Daewoo coreano, por exemplo, é preciso gastar 20% menos em dólares do que no início do ano (foi essa, aproximadamente, a porcentagem de desvalorização do won até agora).
Como as indústrias de veículos, no mundo todo, já produzem hoje 35% mais do que o mercado consume, sobrarão mais veículos.
A GM norte-americana foi a primeira das montadoras a prever problemas com a queda no valor do iene. Seu economista-chefe, Mustafa Mohatarem, calcula que o "valor ideal" do dólar é de entre 95 e 100 ienes. Está em 125 ienes.
Logo, fica entre 25% e 30% mais barato para os produtores japoneses colocarem seus veículos no mercado norte-americano.
As cotas
O Brasil não será afetado, em princípio, pela perspectiva de importações mais baratas de veículos coreanos e japoneses. A política para o setor automobilístico prevê cotas para esses dois países que não podem ser ultrapassadas, sejam os veículos caros ou baratos.
O problema pode vir pelo lado político: Coréia e Japão (assim como EUA e a União Européia) reclamam da política brasileira e alegam que ela não condiz com as normas do comércio mundial.
Com as dificuldades para vender veículos nos seus mercados internos e com a facilidade para exportar, dada pela queda das moedas, coreanos e japoneses só tendem a intensificar as queixas.
Veículos à parte, parte da crise asiática se explica pela superprodução de outros itens, entre eles aparelhos eletrônicos em geral, produtos químicos e aço.
"Gripe asiática"
A crise coreana começou com a falência de dois de seus grandes "chaebols" (conglomerados), o grupo siderúrgico Hanbo e o automobilístico Kia.
Os bancos, como em todo o Sudeste Asiático, estão com a saúde debilitada por uma pilha de empréstimos de difícil recebimento.
Só nas nove maiores instituições financeiras, calcula-se que os créditos de difícil recebimento representem entre 94% e 376% do capital de cada instituição.
O banco central já fez a sua versão do Proer (o programa brasileiro de ajuda ao sistema financeiro), injetando o equivalente a US$ 5,1 bilhão. Foi inútil, ante a propagação da crise dos países vizinhos.
O problema é que a Coréia, ao contrário da Tailândia, Indonésia e mesmo Hong Kong, vítimas anteriores da crise, é um peso pesado. Trata-se da segunda economia da Ásia e da 11ª do mundo.
O impacto da crise coreana tende a ser, por isso, bem mais forte, com especial efeito sobre o Japão.
Primeiro, porque japoneses e coreanos competem em mercados muito semelhantes. A queda do won torna mais competitivas as exportações coreanas.
Segundo, porque o mercado asiático é o destino de 44% das exportações japonesas. Com a crise, esses países importam menos, o que tende a jogar a economia japonesa, a segunda do mundo, em dificuldades ainda mais sérias.
O reflexo no resto do planeta é inevitável. Ainda mais quando se sabe que metade do crescimento da produção mundial, de 1991 em diante, ocorreu nos países em desenvolvimento da Ásia.
Quando estes países param de crescer, ou crescem menos, os efeitos se propagam. É a "febre asiática", como diz o jornal "The International Herald Tribune", em alusão a uma forte gripe que nasceu na Ásia e assolou o mundo há alguns anos. (CR)

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