São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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BC cogitou atrair 'hot money'

LUIZ CINTRA

LUIZ CINTRA; JOSÉLIA AGUIAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Atrair o capital especulativo de curto prazo chegou a ser uma das hipóteses cogitadas pelo governo para controlar a crise de confiança que atingiu a economia brasileira.
A afirmação foi feita ontem pelo presidente do Banco Central, Gustavo Franco, durante conferência telefônica organizada pelo banco norte-americano Citibank exclusivamente para investidores internacionais, à qual a Folha teve acesso.
Respondendo a uma pergunta feita de Londres por um analista financeiro, Franco afirmou que a decisão de reduzir o prazo de renovação dos eurobônus -títulos emitidos por empresas e bancos brasileiros no exterior- foi nessa direção, ou seja, na de atrair capitais de curto prazo.
"O governo brasileiro não cogitou abrir o mercado para os capitais de curto prazo? Eu pergunto isso porque, quando sua casa está pegando fogo, você não questiona a qualidade da água que está sendo usada para apagar o incêndio", perguntou o analista.
"Seu conselho é inteligente. O que não seria inteligente seria usar gasolina para apagar o incêndio", respondeu Franco, em tom bem-humorado.
O presidente do BC considerou então que, ao reduzir o prazo dos eurobônus, agia justamente nesse sentido.
Segundo Franco, a preocupação do governo brasileiro, com relação ao capital de curto prazo, é não tomar decisões que mais tarde prejudiquem o país.
"Nos últimos anos, mantivemos restrições para determinados tipos de capitais e a consequência disso foi que deixaram o país cerca de US$ 14 bilhões em 'hot money"', afirmou.
Na análise do presidente do Banco Central, caso esse dinheiro estivesse no mercado brasileiro no início da crise, o país provavelmente teria mais reservas.
"Mas as saídas seriam muito maiores do que foram. O melhor para nós é não depender desse tipo de capital."
Gustavo Franco disse ainda que o governo está negociando com o Congresso algumas alterações no pacote fiscal baixado recentemente.
A intenção do governo com o conjunto de medidas é ter um ganho fiscal -entre corte de gastos e aumento de receitas- de R$ 20 bilhões.
"Os congressistas estão nos apresentando algumas alternativas, mas eles sabem que os R$ 20 bilhões são inegociáveis."
Para Gustavo Franco, a parcela do pacote fiscal que será votada pelo Congresso será aprovada com facilidade, devido à "ampla maioria" que o governo possui.
"Aprovar o pacote é muito mais fácil do que aprovar as reformas da Constituição", disse.

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