São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Desvalorização afetará o Real, diz Loyola

CLÁUDIA PIRES
ENVIADA ESPECIAL A MIAMI

A desvalorização de 15% da taxa de câmbio no Brasil pode provocar uma ruptura do processo de estabilização da economia do país, segundo opinião de Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central.
"A taxa de câmbio é a âncora nominal desse plano. Ela atua como fiscal do programa de estabilização brasileiro. Mudar essa taxa é alterar as regras do jogo", disse o ex-presidente do Banco Central (BC) ontem em Miami.
Loyola abriu os debates da 31ª Assembléia Anual da Federação Latino-Americana de Bancos fazendo um panorama da situação brasileira antes e depois do que ele chamou de "terremoto do sistema financeiro".
Durante sua exposição, rebateu opinião dada pelo economista Rudiger Dornbusch no dia anterior. Segundo o economista, o câmbio brasileiro deveria ser mais flexível.
"Dizer que os problemas do Brasil estão ligados à valorização do real é uma simplificação do diagnóstico da situação." Na opinião de Loyola, é errado pensar que o Brasil não trabalha com um câmbio flexível.
"Existe um movimento de desvalorização gradual da moeda. Não temos uma taxa de câmbio fixa. Acredito que não há nenhuma razão forte para que o governo tome a decisão de desvalorizar a moeda nesse momento."
Segundo Loyola, a principal solução para a crise que o país enfrenta é dar continuidade ao processo de reformas estruturais.
Ele também admite que o país vai ter que enfrentar recessão durante o processo, mas não acredita que isso leve a um crescimento negativo em 98. Loyola acredita que o crescimento da economia brasileira deve ficar entre 1% e 2%.
Nesse processo, as taxas de juro devem ser reduzidas a partir de 98. "As medidas tomadas na área fiscal vão permitir essa redução."
Segundo o ex-presidente do BC, o governo jamais poderá dizer que o real está a salvo. "Política econômica é um exercício do dia-a-dia. Não se pode dizer que o real está a salvo para sempre."
Previsões
Para o ex-presidente do BC, o pacote fiscal adotado recentemente pelo governo brasileiro vai gerar redução nos déficits brasileiros a partir do próximo ano.
Na avaliação de Loyola, o déficit em transações correntes deve ficar entre 3,5% e 3,7% do PIB (Produto Interno Bruto) no próximo ano. Antes da crise, as previsões chegavam a 4,5% do PIB.
"Essas contas estão sendo financiadas por investimentos diretos, grande parte provenientes do processo de privatização."
Já a balança comercial brasileira deve ter um déficit de cerca de US$ 6 bilhões em 98. As previsões anteriores do governo apontavam US$ 9,5 bilhões para o próximo ano.
Crise
Loyola acredita que a contaminação do mercado financeiro brasileiro pela crise mundial se deu porque o sistema do país é um dos mais internacionalizados.
"Os problemas não têm nada a ver com a situação macroeconômica do país. Eles foram gerados pelas fraquezas e tensões do mercado financeiro."
Na sua opinião, porém, a continuidade da crise da Ásia ainda pode voltar a afetar o Brasil caso países como Japão e Coréia, por exemplo, voltem a ser atingidos. "Mas o país tem muito mais chances de suportar essas consequências depois da adoção do pacote", afirmou.

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