São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Homenagem a Chico Buarque traz frustrações

LUIZ CAVERSAN
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO

Com o objetivo de engrossar os recursos para seu Carnaval, alegrar os fãs e fazer festa -porque, afinal, samba é sobretudo festa-, a escola de samba Estação Primeira de Mangueira realizou anteontem no Rio e realiza hoje em São Paulo shows reunindo diversos nomes ligados à escola, todos em torno do homenageado por ela em 98, Chico Buarque de Hollanda.
O show do Rio durou 1 hora e 30 minutos e, como todo evento dessa natureza -que mistura artistas de perfis distintos, saudosismos e improvisação-, teve altos e baixos. Além de algumas frustrações.
A maior foi presenciar a avareza de Chico Buarque, que limitou a atuação solo no palco a só quatro canções ("Alvorada", "Folhas Secas", "Chão de Esmeraldas" e "Divina Dama"). Muito pouco para quem emprestava o nome ao show, era sem dúvida a grande atração da noite e, além de tudo, recebia as homenagens por ter sido escolhido tema do samba-enredo da escola no próximo Carnaval.
OK que no disco que deu origem ao show -o repertório e convidados são basicamente os mesmos- já tinha sido assim. Mas esperava-se que, ao vivo e diante do calor da platéia, a improvisação e a descontração inerentes ao samba prevalecessem, o que não ocorreu.
Repetiram-se fórmulas do disco que pioraram ao vivo, como o dueto entre Carlinhos Vergueiro e Christina Buarque, ambos com potencial vocal restrito e cujas limitações se acentuaram ao vivo.
Os demais convidados -Lecy Brandão, João Nogueira, Beth Carvalho, Alcione, Nelson Sargento, Jamelão e a Velha Guarda da Escola- deram o que o público queria: rememoraram sambas históricos relacionados à escola mais famosa do país e foram recompensados com muito aplauso.
Apesar de -ou talvez por causa disso- alguns exageros. Como Beth Carvalho cantar "As Rosas Não Falam", de Cartola, ajoelhada. Ou os malabarismos vocais de Alcione na maravilhosa "Sei Lá Mangueira", de Paulinho da Viola e Hermínio Belo de Carvalho.
O ponto alto ficou para o fim, com Jamelão. Bastou que aquele negro forte e cuja voz está ligada ao samba há muitas décadas soltasse a primeira nota em "Quatro Estações" para que todos os demais ficassem reduzidos a um patamar menor. Ele é, há muito, a grande voz do samba e a grande voz da Mangueira. Um show à parte.
O espetáculo "Chico Buarque da Mangueira" resumiu-se a um painel irregular da produção musical que reverencia a escola de samba. Satisfaz os fãs inveterados da Mangueira e deixa com água na boca os admiradores de Chico Buarque.

Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna "Netvox".

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