São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Banda faz hipnose para 25 mil

DENISE BOBADILHA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LONDRES

Setembro de 1997. Em cerca de 60 minutos de show, Richard Ashcroft, vocalista do Verve, quase não abriu os olhos.
O cantor parecia ter medo de encarar a platéia de mais de 25 mil pessoas que estava aguardando o primeiro show do Oasis em Londres em dois anos.
Ashcroft piscou algumas vezes e chegou a sorrir em êxtase quando sentiu que aquela noite também era sua.
Por outro lado, quem estava com os olhos bem arregalados era o atônito público, diante de Ashcroft e dos outros quatro músicos do Verve. O prazer que a banda transmitia ao tocar e a sinceridade da voz do frágil vocalista eram hipnóticos.
Já de cara, com "The Rolling People", percebia-se que o Verve não estava de volta à ativa por pouco -impressão confirmada nos primeiros acordes da segunda música da noite, "This Is Music".
Ashcroft declama "Tell me what you see/I'm standing here all alone" ("Diga-me o que você vê/eu estou aqui totalmente sozinho"). Com um violão, força os timbres de forma emocionada e entoa "Sonnet", um dos momentos mais encantadores da noite.
É possível ver os olhos verdes-escuros do líder do Verve -distantes e serenos- apenas em "The Drugs Don't Work". Último single da banda e hit absoluto na Inglaterra, a música faz com que milhares cantem. E Ashcroft perde o medo da multidão por alguns segundos.
Depois de outras quatro canções -todas executadas com esmero, como se fossem peças únicas em uma noite única-, o terreno volta a ficar seguro para o tímido Ashcroft. É "Bitter Sweet Symphony", o candidato a maior hit do verão.
O telão focaliza o baterista Peter Salisbury, e ele também se emociona. O rosto de Richard é só sombras. Vê-se seus lábios grossos sussurrando ao microfone, as pálpebras um tanto trêmulas, mas cerradas -e é fácil lembrar de Ian McCulloch cantando nos bons tempos do Echo & The Bunnymen.
O Verve encerra sua noite com duas canções de desmanchar a alma, "History" ("Você e eu somos história hoje") e "Come On". O refrão que dá nome à última sai tão cortado que se torna uma convocação pessoal. Todos urram, aplaudem. A banda agradece e sai. A história se fez.

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